29.5.06

Aristeu Nogueira, sinônimo de Cidadania

Por Juracy de Oliveira Paixão

Amigos, parentes e a Internet me informaram da viagem derradeira de Aristeu. Recebida a notícia, abriu-se-me a lembrança para fatos dos Anos 50/60, quando as lutas sociais atingiram seu ápice no Brasil que se redemocratizara – embora os ditos “guardiões da democracia” já articulassem novo e cruento golpe.

Aristeu, naqueles anos, era membro do Comitê Central do então PCB (Partido Comunista Brasileiro) na semi-legalidade e dirigente máximo da organização no Estado da Bahia. Seu escritório, sobre uma loja de sapatos da Avenida Sete - quase sob a proteção do Relógio de São Pedro, era o centro estratégico dos movimentos revolucionários na Bahia. Dali, Aristeu definia rumo para as greves e passeatas, acalmava radicais que pensavam no poder pela via do confronto, animava os que punham pouca fé na disposição reformista de Jango, distribuía instruções aos “funcionários” do aparelho - aqueles que viviam do e para o Partido.

Naqueles anos, nenhuma força política progressista julgava-se capaz de dispensar a participação do PCB em qualquer ação pública, fosse ela uma simples passeata de estudantes secundaristas ou o mais radical avanço das Ligas Camponesas.

Aristeu, com seu jeito maroto de sorrir sisudo, sabia reconhecer no mais humilde companheiro o mérito revolucionário. Punha, contudo, - leal e fiel homem de partido que era - a organização partidária acima de posições, importâncias e conveniências. A ele aplicava-se, sem perda de vírgulas, a afirmativa de Bertold Brecht: “Mostre-nos o caminho a tomar que nós o seguiremos com você, mas não tome o caminho certo sem nós. Sem nós, este é o mais falso dos caminhos”.

Sobrevivente sofrido dos anos de chumbo, Aristeu agasalhou-se em seu Irará, talvez atraído pela imagem do velho sobrado dos Nogueira. Em sua cidadezinha voltou à faina do Direito, opção da juventude e porta escancarada que o conduziu ao caminho político escolhido. Faleceu como viveu: na humildade, na lealdade, na solidão – mas comunista de quatro costados.

Soube que ao seu funeral apenas compareceram familiares, alguns poucos amigos e um ou outro cidadão conterrâneo, além de colegas do Direito. A elite (falida e hipócrita) da cidade ignorou sua marcha final. Os políticos de ocasião – aqueles que ainda julgam ter o comando dos cabrestos - puseram venda nos olhos. Os primeiros, certamente marcaram ausência pela discriminação que sempre dedicaram aos comunistas declarados; os segundos, por julgarem que “Aristeu não tem votos”.

Aristeu foi feliz neste seu último momento: desceu seus sete palmos sem a presença hipócrita da falsa elite e sem as lágrimas de crocodilo dos supostos donos do poder. Desceu seus sete palmos para, em novo aparelho, encontrar-se com Raul Cruz, com Pedro de Tiano, com Lenine e com Karl Marx, a fim de discutirem sobre uma nova tese que logo será o dilema dos que permanecem vivos: “a Revolução se dará, mesmo que, para tanto, as décadas se sucedam”. Quando chegar a hora, serão aristeus, lenines e semelhantes que estarão à frente da ação e da marcha, priorizando aquilo que a pretensa elite e os falsos políticos mais abominam: a Cidadania.

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2 comentários:

Anônimo disse...

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