8.12.06

Vai ser “massa”


Raimundo Sodré na Feira Regional da Mandioca em Irará. Sodré que ficou conhecido internacionalmente depois do Festival da Nova MPB 80, onde apresentou a canção “A massa”, vai poder mostrar suas canções ao vivo para “a massa” iraraense que planta, cultiva e consome mandioca. .
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Não só “a massa”, mas tantas outras da suas belas canções. Músicas que cantam “a dor da gente”. A “dor de menino acanhando, menino-bezerro pisado, no curral do mundo a penar”. Som autêntico “que salta aos olhos, igual a um gemido calado” e assim espanta “a sombra do mal assombrado, a dor de nem poder chorar”.
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Sodré na Feira é mais um presente para “a massa” iraraense. Principalmente para os jovens. Os jovens da geração de antes que testemunharam Raimundo no Festival. Os jovens de hoje, tão carentes de opções culturais e submissos aos ditames da cultura de massa. Interesses mercadológicos que tratam todos, e a sua cultura, como se fossem um “moinho de homens, que nem girimus amassados, mansos meninos domados, massa de medos iguais”.
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Para lutar contra os seus medos, a principal arma da “massa” é a resistência. Assim como Tiago de Melo insiste em não dormir, a cultura da mandioca teima em resistir. Resiste ao descaso, resiste às pressões, aos que desejam indústrias para poluir em detrimento de suas potencialidades. Massa de homens batalhadores. Todos os que resistem e insistem em seguir “amassando a massa” com “a mão que amassa a comida, esculpi, modela e castiga”. Essa é “a massa dos homens normais”.
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“Quando eu lembro da massa da mandioca, mãe”. “Da massa”. Lembro dessa gente sofrida. Lembro da força da raiz da mandioca. Lembro... “nunca mais me fizeram aquela presença, mãe”. Triplo sentido. As três massas na composição de Raimundo Sodré e Jorge Portugal. Um orgasmo literário. Prato cheio para quem curte as metáforas e os trocadilhos.
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“Da massa que planta mandioca”. A “massa que falo é que passa fome, mãe”. Alguns já viciados nas esmolas governamentais, deixam suas lavouras, esquecem o “amor de lelé”, perdem a esperança da resistência de poder um dia bradar com fé: “no cabo da minha enxada não conheço “coroné””.
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E assim como essa indecisão de se acomodar ou de se rebelar “eu quero, mas não quero, camarão, mulher minha na função, camarão, que está livre de um abraço, mas nunca de um beliscão”. E a “massa” que tanto parece indecisa, assim como Arnaldo Antunes, não quer só comida, quer comida, diversão e arte. Por isso, quando Sodré terminar o seu show, certamente os pedidos serão: “tornar repetir meu amor, ai, ai, ai!”.
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Aí então, com as massas conscientes do que querem e se quererem bem, pouco importa se “o guarda civil não quer a roupa no quarador”. Por outro lado, se “as massas” deixarem transparecer que ainda dormitam, Sodré continuará com seu questionamento. “Meu Deus onde vai parar, parar essa massa?”.
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Em Irará, Raimundo só não deve ficar sem resposta quando perguntar: “Meu Deus onde vai rolar, rolar essa massa...”. Entre dúvidas e questionamentos, só me vem a certeza de que a apresentação de Sodré em Irará vai ser “massa”. Sentido quádruplo. Gozei!
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PS. “junte as partes aspeadas e forme a letra de A Massa” (rs, rs, rs)

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