30.12.07

03 anos, 02 cartas, 01 pedido, 00 ação

Contagem regressiva. Sinal do regresso político-cultural iraraense. Os números decrescentes do título acima sintetizam minha saga na busca da efetivação de uma lei. A intenção era tornar isentas de IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano) todas as entidades culturais e filantrópicas de Irará.
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A medida, além de beneficiar as entidades financeiramente, facilitaria os tramites das mesmas quando precisassem de certidões municipais para receber recursos de instâncias estaduais e federais.



Carta de 2005

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Setembro de 2005. Encaminhei a solicitação à Câmara Municipal de Vereadores. Coloquei anexa, como exemplo, uma carta do ex-prefeito de Salvador, Antônio Imbhassay, datada de 2004. Nela, o executivo, após a ameaça de penhora do Teatro Vila Velha, pedia à Câmara Municipal a aprovação de um projeto de lei para isentar o Vila do imposto. A missiva anexa intencionava exemplificar que não havia impedimento legal para a isenção.
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Não pude acompanhar a sessão na qual a carta foi lida. Entretanto, tive informações de que o texto havia sido apresentado na ordem do dia. Segundo meus informantes, nenhum comentário, nenhuma indicação, nenhum posicionamento. Nada! Era como se aquela mensagem não houvesse chegado ali.
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Carta de 2006

Setembro de 2006. Percebi que o pedido havia completado um ano e a solicitação não havia sido atendida. Resolvi mandar outro comunicado aos parlamentares. Só que desta vez agi de modo diferente. Mandei o texto em forma de carta aberta. Fiz algumas cópias e distribui entre os presentes na sessão.
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Parecia que era uma carta bomba. Houve consulta ao assessor jurídico da casa. Teve parlamentar que, antes do início da sessão, me chamou para conversar. “Você mandou no ano passado?” – perguntou e diante da resposta afirmativa respondeu: “Então eu não estava na sessão que foi lida”.
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Apresentada na ordem do dia, a “bomba” foi logo detonada. Um parlamentar pronunciou-se com nervosismo. Desconfiou de motivação eleitoreira. “Por que esperou um ano para mandar de novo agora, na véspera da eleição?”. Reflexo do clima “tenso” da cidade naquela campanha para deputados, senadores, governador e presidente. Outro foi taxativo: “É porque o rapaz não entende nada de lei de responsabilidade fiscal, só quem pode fazer esse projeto é o Prefeito”.
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O vereador tinha razão. Assim como no caso de Salvador, necessitava haver uma iniciativa do executivo. Afinal, só a esse poder é permitido elaborar projetos que possam gerar despesas ou recusar receitas (no caso nem tanta recusa assim, já que quase nenhuma entidade social iraraense pode de fato pagar o imposto).
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No entanto, mesmo cheio de razão, o vereador ao invés de apontar a “ignorância” do rapaz, deveria se por ao lado da causa social. Como legislador e “funcionário público” é dever do edil auxiliar o cidadão comum, que, diferente dele, não recebe salário para ter obrigação de conhecer com afinco os tramites legislativos.
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Peraí! Abre um parêntese. Nada de desculpas ou procurar erro no edil. Quer saber? A carta soa mesmo como um desaforo. Os legisladores estão acostumados a receber pedidos de blocos, cimento, madeira, remédio, dinheiro para festa... Aí vai esse menino pedir uma lei. Uma lei!? Onde já se viu!? Uma lei! É mesmo muita provocação. Fecha parêntese.
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Um terceiro vereador apontou a importância da idéia por beneficiar a cultura e, assinalou, “cultura é lazer”. Como mais ninguém usou da palavra para este assunto, os parlamentares passaram a tratar de outros temas e a sessão continuou.
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No final daquele mês, veio a confirmação de que o vereador da “reunião informal”, antes da leitura da carta na ordem do dia, havia cumprido o que prometera. Ele afirmou que iria dirigir um requerimento ao prefeito indicando a lei de isenção. E, na edição logo após aquela reunião, o informativo mensal A Gazeta de Irará publicou em suas páginas a notícia de que o vereador havia “pedido isenção de impostos para entidades municipais”.
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Setembro de 2007. Nada. O pedido para isenção de IPTU para entidades filantrópicas e culturais entrou no seu terceiro ano e não foi atendido. Em 2007, resolvi não mandar mais carta alguma. Nem para vereadores, nem para o prefeito.
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Ademais, acho que não precisava ficar lembrando o prefeito disto. Ele já sabe da necessidade desta isenção do IPTU para entidades filantrópicas e culturais. Este é um desejo das pessoas que fazem cultura em Irará, conforme reforço do pedido expresso pela sociedade civil durante o Encontro Municipal de Cultura, acontecido no dia 04 de setembro de 2007 (olha o pedido completando 3 aninhos...).
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E porque o executivo ainda não formulou o projeto?
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Sei lá. Deve ser porque ele é artista, gosta muito da cultura de Irará e como disse a Secretária de Educação no dia do Encontro de Cultura, ninguém canta melhor essa “aldeia” do que o prefeito.

19.12.07

Moska na sopa do parque

Domingo no parque. Crianças brincando, churrasquinho, pipoca, algodão doce, bicicleta. Gente fazendo panfletagem. Comércio, política, arte. Tudo em divulgação. É certo que o movimento no parque cresce, e muito, quando tem música.
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Neste domingo último, o Parque da Cidade em Salvador recebeu um grande público para ouvir as canções do carioca Paulinho Moska, ou simplesmente Moska, como vem sendo chamado já há um bom tempo, não sei se por decisão própria ou indicação de um numerólogo qualquer.
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O ambiente é bucólico. Um belo palco encravado em meio aquele exuberante pedaço de mata atlântica. O público vai chegando e se acomodando aos poucos. Após a apresentação e os reclames de Jéferson Beltrão, Moska sobe ao palco. Somente ele e dois vilões.
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Cumprimenta a platéia, mas quase que não se ouve a sua voz. De repente o som cresce. Agora dá pra ouvir. O artista anuncia a primeira música. “Tudo novo de novo”. A canção sugere começarmos de “onde já caímos”.
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Moska então segue embalando as pessoas, desde os mais tímidos ao fundo, aos mais empolgados, na frente do palco fazendo pedidos. O artista conversa com o público, apresenta suas canções e conta um pouco de como se dá o processo de criação das mesmas.
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Revela: “uma vez comprei uma maquininha, dessas digitais que todo mundo tem hoje, e resolvi sair fotografando o meu reflexo em objetos metálicos de banheiro (torneiras, maçanetas, saboneteiras, etc) dos hotéis por onde eu passava. Isso virou mania e depois obsessão”.
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E durante o show ele ia contando. O vicio de fotografar o próprio reflexo lhe rendeu mais de duas mil imagens. Ia catalogando, separado-as em pastas no computador, dando nomes a algumas. Títulos e imagens que se tornaram frases, poemas e canções. Músicas que viraram álbuns.
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No meio de um destes relatos o som cai. A voz de Paulinho só é ouvida no retorno do palco. Para o público fica baixinho, quase que não se dá para ouvir. Nada de desespero. Nem xingamentos, nem reclamação com a equipe técnica, nem ameaça de cancelar o show, alegando o som ser uma “porcaria” ou falta de respeito com a sua arte. Nada disso.
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Moska começa a bater palma. O público lhe acompanha. Sem o uso do violão, vai cantarolando. Os versos falam de miscigenação, da branquinha que aceita o rapaz de cor, da formação do mulato brasileiro.
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Enquanto as pessoas se encantam com o voz e palmas, os técnicos seguem frenéticos na mesa de som. É um emaranhado de cabos. Uma porção de plugues pra sair de um canto e entrar noutro. A mesa é grande. Muitos canais. Vai ver que foi um único daqueles, o causador de todo o problema e... Já viu.
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Alguns poucos minutos depois o áudio das caixas externas retorna. Moska termina a cantarolisse em alto e bom som. “Tá vendo!? Não doeu nada e ainda ganhei um Martinho da Vila”, diz o carioca, como quem deixa implícito saber que imprevistos acontecem. Nem sempre é necessário pilhar a equipe ou colocar o público contra a produção do show.
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Aí ele aproveita para falar de samba. “Tudo começou aqui”, diz, salientando ser Salvador a cidade “mais mulata do Brasil”. Comunica, a quem não sabe, ser neto da Bahia. “Minha mãe nasceu nesta terra”. “Meu sangue é baiano também”.
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Entre falas e sambas, julga que a “bagunça” foi boa. Daí arranca gritos do público quando fala ser Raul Seixas “a maior ‘bangunça’ deste país”. Anuncia que é preciso retornar ao show, mas diz que ao fim do repertório pode ter a volta da “bagunça”. Parece que desta vez, nem vai ser necessário o velho grito de guerra: “Toca Raul!”
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Moska começa de onde caiu. Volta para seu repertório. Enganou-se quem pensou que o samba estaria fora dele. Paulinho da Viola (“meu xará duas vezes”), Herivelton Martins, Pixinguinha e outros. “Baiana é aquele que entra na roda de qualquer maneira”. Canta e depois confessa nunca ter tocado esta música ao vivo. “Só cantava em casa”. E tocava pra maiínha dele.
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No leque de canções tem músicas próprias; parceria com outros cantores; como “relampiando” com Lenine; e composições e canções executadas por outros interpretes. Tem a presença de Zélia Ducan. É tocado um blues do “príncipe Cazuza”.
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O público é insaciável. Quer mais, pede mais. Moska fala em democracia, “tem gente que já pediu e tá pedindo de novo”. Lembra de quem está no fundo. Prejudicados porque o artista não os escuta. Simula um tit-tic nervoso, um chilique no palco. Muita gente vai à gargalhada.
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Em meio a tantos pedidos diz ter um limite. “Lembrem-se que aqui no palco tem uma mosca”, brinca com seu apelido para falar que tem um limite físico e o show vai acabar a qualquer momento.
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Casais, crianças, coroas. Dava para perceber a presença forte de Maria Joana também. Tá calor? Vai de água, de refri ou uma cerva. Apesar daquele tempo quente do meio-dia do domingo, as nuvens colaboraram e esconderam o sol. O clima era alegre, descontraído, agradável e de nublado a parcialmente nublado.
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Paulino Moska termina o show. Acena e saí do palco. O público pede biz. Será que ele volta? Há quatro ou cinco anos atrás, em apresentação no Parque Costa Azul em Salvador, ele disse que não iria fazer “aquela idiotice” de sair do palco esperar o pedido do público e depois voltar. Preferia ficar tocando músicas fora do set list até a hora que a vontade desse. Desta vez, foi diferente.
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Tal qual o boêmio, ele voltou. Mostrou o seu lado metamorfose ambulante. Diante do calor do público, tirou a camisa. “Vocês vão ver um monte de ossos”. Falava de seu próprio corpo magro, talvez nem imaginando que na platéia tinha alguém mais ceco do que ele.
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Sem camisa e de viola elétrica na mão, empolgou o público. O que toda aquela gente faria se só restasse aquele dia? Se o mundo fosse acabar? O mundo não, mas pouco depois, o show estava terminado e Moska não tocou Raul.
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Talvez nem precisasse mesmo uma canção. A participação do maluco beleza era implícita na energia da festa. O morro e as árvores do lugar fazendo um cerco como um caldeirão. Mistura de pessoas, de cores, de ritmos, de emoções. Uma sopa. E lá pousou um Moska que chegou pra zumbizar.
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Foto: Luis Batista/Fotopress/divulgação, tomada de "emprestimo" no site do terra, com texto de Lucas Esteves.

15.12.07

Franklin Maxado lança livro em Salvador

Nesta terça-feira, 18, o Conjunto Caixa Cultural estará mais nordestino e maxadiano. O poeta, cordelista, professor, jornalista, teatrólogo, advogado, acadêmico... Franklin Maxado estará lançando, pela Editora Hedra (São Paulo), um livro com alguns dos seus cordéis.
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A publicação do feirense Maxado faz parte da coleção Biblioteca do Cordel, publicada pela editora. A série aborda a obra de grandes nomes da literatura de cordel no Brasil, a exemplo de Cuíca de Santo Amaro, Rodolfo Coelho Cavalcante, Patativa do Assaré e João Martins de Athayde.
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Listado como verbete no Dicionário dos Folcloristas Brasileiros, Franklin já publicou cerca de trezentos títulos de folhetos de cordel em mais de trinta anos de dedicação ao gênero. Além disto, há a publicação de ensaios, artigos e livros sobre o tema, entre eles: Antologia da Literatura de Cordel – em braile (1997), O que é literatura de Cordel (1980) e O Cordel Televivo (1984).
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Pelos causos, cordéis e pelo canto de tudo que é canto, vale apena conferir a obra do Maxado Nordestino. Certamente, neste livro tem muitas estórias pitorescas, como a revelada por ele próprio durante sua participação no Colóquio de Literatura Popular 2005, em Irará. Na ocasião, Franklin, que já defendeu Lucas da Feira num “tribunal do júri”, contou ao público iraraense como ele “fez um jumento virar gente”.
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Durante o lançamento será também aberta uma exposição de xilogravuras.
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O que? Lançamento de Livro
Quem ? Franklin Maxado
Quando? Terça-feira, dia 18, às 20h.
Onde? Conjunto Caixa Cultural – Rua Carlos Gomes, 57, Salvador- Ba.
Quanto? Lançamento: De grátis / Livro: R$ 18,00 (preço no site da editora)
[compre aqui ]

7.12.07

Feira Regional da Mandioca

veja programação em www.irara.com - notícia de 30.11.2007
(Leia trechos de entrevista com destaque para a cultura da mandioca em Irará abaixo)

Mandioca e agricultura em debate

Em maio de 2001, o Diretório Municipal do PT (Partido dos Trabalhadores) de Irará publicou a edição de número cinco do seu informe-ativo, denominado “O TREZE”. Contribui com a edição, co-produção, escrita de alguns textos e até com a diagramação. Nosso amigo Marcilio Cerqueira, além de co-produzir, também fez ilustrações para o jornal.
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A edição trazia uma entrevista com o técnico agrícola Cássio Alvim. Mineiro de nascimento, Cássio veio para a Bahia trabalhar na EMATERBA (atual EBDA) e, depois de passar por outras cidades, atuou em Irará, até ser transferido para Conceição do Jacuípe. Nos anos que trabalhou em Irará, Alvim se tornou um conhecedor da agricultura local, das suas dificuldades e potencialidades.
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Por ocasião da Feira Regional da Mandioca, momento em que se evidenciam os debates acerca da cadeia produtiva mandioqueira, aproveito para publicar aqui algumas das considerações feitas por Cássio Alvim na referida entrevista, com relação a mandioca e a agricultura local.
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Como serão observadas pelo leitor, algumas das afirmações feitas por Cássio, naquela noite de abril de 2001, ainda são atuais, para o bem ou para o mal, seis anos depois.
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Trechos da entrevista com Cássio Alvim

O TREZE: intenção de discutir temas do município

Cenário iraraense

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“Em Irará se tem uma reforma agrária natural, só temos basicamente pequenos produtores, a média de área de propriedade rural é cinco hectares, conta-se nos dedos os que têm mais, e não são o que podem se chamar de grandes produtores”

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“Outra questão observada em Irará, que talvez não aconteça em outro lugar, é a concentração da população no meio rural. Uma média de 65% da população vive no meio rural, se observarmos outros municípios brasileiros a média não chega a 20%.”
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“A economia do município [Irará] é agrícola, não temos indústrias e, se o comércio existe, ele existe em função do meio rural e depende das pessoas que vendem a farinha e o fumo, sendo este último, outra questão problemática”

Relação Irará e outros mercados

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“Muitos atribuem a [má] situação à lei da oferta e da procura, mas não é bem assim. Se houvesse oferta em outros municípios da região, poderíamos falar que tal lei seria uma realidade, mas farinha se produz em Irará e a diferença do preço de um saco de farinha em Irará com relação a outros lugares distantes, trinta ou quarenta quilômetros, é muito grande”
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“Apesar de Nazaré das Farinhas ter essa fama toda, a farinha de Irará é considerada uma das melhores farinhas que existem e, mesmo com uma séria de misturas feitas com a farinha vinda do sul, a farinha de Irará é reconhecida e tem respeito na região.”
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“O Paraná não planta mandioca com o objetivo de produzir farinha. Na realidade eles produzem fécula, o povilho, o que conhecemos como tapioca. A parte que sobra é a parte fibrosa, vem pra cá e juntamente com a farinha iraraense, possuidora de um alto teor de amido, consegui-se um produto intermediário com um custo mais barato. Tanto que se a farinha do sul prestasse, não precisaria vir pra cá misturar com a nossa, eles venderiam direto para o consumidor. E para dá qualidade, ou seja, um melhor teor de amido, eles fazem essa mistura.”
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Produção e comercialização


“Irará é um dos maiores produtores [de mandioca] do estado. Temos de observar que a mandioca não produz somente a farinha, existem uma série de outras alternativas, porém só vemos os produtores de Irará explorando única e exclusivamente a farinha”
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“Sabemos que existem subprodutos da mandioca que poderiam ser aproveitados, por exemplo, na pecuária ração ou como adubo na agricultura”
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“Eu passei quatro anos trabalhando aqui na EBDA [Empresa Baiana de Desenvolvimento Agrário – Irará] e trouxemos uma boa variedade de mandioca, não só se falando em produtividade, mas também em coloração, afinal sabemos que a farinha produzida aqui é colorida artificialmente, então entendemos que existem variedades com a mesma condição de coloração da artificial”
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“Talvez [a coloração] não seria tão forte quanto a artificial, mas em termos de saúde seria bem melhor”
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“No que diz respeito ao preço, a mandioca teria condições de melhorar e muito com relação ao preço que está. Um Saco de farinha hoje [maio 2001], à media de oito reais, não cobre de forma nenhuma o que se chama de custo de produção, ou seja, aquilo que se gasta para a mesma. Aí você poderia perguntar: 'mas como é que ele planta se não cobre o que gasta?'Na realidade, ele só consegue produzir, porque usa a própria família, se fosse fazer comercialmente para pagar mão de obra externa, ele não poderia de forma alguma porque não haveria condições de se trabalhar no vermelho”
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“Se você for a um supermercado e vê farinha de Irará empacotada sendo vendida, verá que o preço dela é bem diferente do preço pago ao agricultor”
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“Organizando uma cooperativa teríamos condições de exportar para outros municípios, o nosso beiju empacotado e padronizado, porque pode-se ver lá fora, onde chega o produto de Irará todos elogiam, porém, individualmente não iremos conseguir nada. ”
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“Se tivéssemos uma instituição formal com CNPJ, nota fiscal e tudo, teríamos plena condição de vender a farinha às grandes redes de supermercado, sem a necessidade de intermediários”

Obs: Após a Primeira Feira da Mandioca (2004) foi criada a COOPRIL – Cooperativa dos Produtores de Rurais de Irará. Desde sua fundação, a entidade vem se esforçando na luta, para sanar dificuldades no setor agrícola.
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A íntegra foi publicada em O TREZE – Informe ativo do Diretório Municipal do Partido dos Trabalhadores – Irará – Maio de 2001 – pag. 3 a pag. 6.
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Entrevista foi realizada por Roberto Martins e Agnaldo Francelino em uma dada noite de abril de 2001, na casa do entrevistado, situada à Rua de Ouriçangas em Irará – Ba.

2.12.07

Colóquio tem quarta aprovação consecutiva em edital do BNB


Cordelsita Jotacê Freitas recitando
na feira-livre no primeiro Colóquio em 2005
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“Esse tar, desse de Colóquio, coloca pra fu...”, constata um amigo entusiasmado ao saber da notícia. “É tetra, é tetra, é tetra, é tetra...”, grita outro, parecendo imitar Galvão Bueno, após Roberto Baggio chutar a bola sobre o gol de Taffarel em 1994.
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Emoções à parte, a notícia é verdadeira. O Colóquio de Literatura Popular, da Casa da Cultura de Irará, foi contemplado no edital BNB de Cultura 2008. Junto com as aprovações de 2005, 2006 e 2007, essa é quarta aprovação do Colóquio.
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A Casa da Cultura, que ainda não realizou o Colóquio previsto para 2007, tem agora à sua frente uma garantia de recursos por parte do Banco do Nordeste para a realização de dois Colóquios. Ambos orçados para receber do BNB cerca de R$ 10 mil e ainda podendo captar recursos de outros patrocinadores. Cabe à diretoria, apenas, organizar as suas questões burocráticas e produzir os eventos.
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Assim como as aprovações anteriores, esta também contou com a assessoria da Charanga Comunicação. No entanto, para que “esses caras” (nós) da Charanga não fiquem se achando, pensando que vão ser aprovados em todos os editais dos quais participem, houve um projeto que não foi contemplado. Trata-se do que intencionava ampliação e circulação da Escola de Música Aniceto Azevedo da Cruz, no qual a Filarmônica 25 de Dezembro pleiteava recursos junto ao BNB, mas infelizmente não foi aprovado.
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Acredito que as aprovações do Colóquio neste concorrido edital (este ano o Edital teve 3.260 inscritos e foram aprovados 192 projetos) têm acontecido pelo seu foco veemente nos objetivos propostos pelo BNB. O evento contempla o seguimento da literatura com ênfase na linguagem popular nordestina. A multiplicidade do Colóquio com diversas atividades (palestras, recitais, oficinas, exposições e apresentações artísticas), sua boa relação custo X beneficio e a inserção no município do interior nordestino (Irará), também ajudam bastante.
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Foto: José Falcón - Arquivo Casa da Cultura de Irará

Veja outras divulgações sobre o Colóquio aqui neste Blog.
(o vídeo não estar mais no ar)

30.11.07

Dia do Samba em verso e prosa

Domingo, 02 de Dezembro, é dia do Samba. Leia homenagem e histórico da data, produzida pelo poeta Gustavo Felicíssimo.

Aqui.

Pisadinha do Pé Firme é selecionado em Prêmio da Funceb


Pisadinha em apresentação no Colóquio 2005


O samba-de-roda Pisadinha do Firme, da comunidade da Boca de Várzea, liderado por Seu Juvam Gomes (pedreiro, barbeiro e sambador, dentre outras artes), foi um dos grupos selecionados no Prêmio Manifestações Tradicionais da Cultura Popular, realizado pela FUNCEB – Fundação Cultural do Estado da Bahia. Com a premiação, o Grupo receberá R$ 6 mil (com impostos a ser descontados) para investir na compra de instrumentos e indumentárias.
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A idéia de inscrever o grupo no Edital da Fundação, com prazo de inscrições encerrado no último dia 30 de outubro, partiu dos integrantes da Charanga Comunicação. Vendo no Pisadinha as potencialidades para conseguir o prêmio, a tarefa do grupo consistiu em orientar e assessorar Seu Juvam, para que ele pudesse cumprir todos os passos exigidos no Edital. Para comprovar que o Pisadinha tinha mais de dez anos de atividades ininterruptas (umas das clausulas do edital) foi usado uma ata de Reunião da Casa da Cultura de Irará (1994) e declarações de Dr. Deraldo Portela e Dr. Veríssimo Avelino.
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O prêmio vem num momento bom para o grupo, que recentemente gravou um DVD. No vídeo há entrevistas, contando um pouco de sua história; participação de convidados, como Dr. Deraldo Portela, Diógenes Barbosa, Kau Santana, Sr. João Lopes, Derivaldo Pinto, Professora Lindinalva, o Prefeito Juscelino Souza, entre outros; e muito samba. Este projeto do Pisadinha, junto a três Colóquios de Literatura Popular (2005/ 2006/ 2007) e o CD do Cinqüentenário (Filarmônica 25 de Dezembro) é o quinto projeto cultural aprovado para Irará que conta com apóio logístico da Charanga Comunicação.
* Foto de Periclés Mendes - fotográfo que esteve em Irará acompanhando o grupo Solo Pedregoso no Colóquio de Literatura Popular em 2005.

Um tri-lema para a polícia e para a política

Entre as questões e assertivas feitas pelo Capitão Nascimento, personagem-narrador, interpretado pelo baiano Wagner Moura, no filme Tropa de Elite, quero direcionar uma para o segmento da política. Trata-se do tri-lema: “policial ou se corrompe, ou se omite, ou vai pra guerra”.
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Se, de acordo com o que o filme deixa transparecer, não há como fugir deste tri-lema para ser um policial, me parece que para exercer a política, também não existe outra escolha. Os que se corrompem, os que se omitem e os que vão à guerra, são os tipos mais freqüentes no meio político. Tal ambiente, aqui descrito, não se resume apenas à política partidária ou profissional, mas também se refere à participação política, por assim dizer.
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Os que se corrompem são os tipos que mais aparecem. E, por vezes, aparecem até, com relativa freqüência, nos grandes veículos de comunicação. Pessoas que usam influência ou participação em cargos públicos para benefício próprio e/ou de amigos.
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Neste grupo também estão os popularmente conhecidos “políticos corruptos”. Pessoas sem escrúpulos e sem nenhum receio de ser descoberto um dia ou de se beneficiar à custa do suor alheio. Alguém acreditando no “todo mundo rouba mesmo”, que se achou no direito de meter a mão também. Afinal, como diz o ditado, ele não iria “dá uma de freira no puteiro”.
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Os omissos figuram, basicamente, em duas linhas de atuação (se é que alguém omisso atua em alguma coisa). Há aqueles que enxergam no meio político muita roubalheira, falsidade, presunção, entre outros males, e pensam que é melhor ficar neutro, do que tomar qualquer posição possível. Outros desenvolvem uma visão fatalista, cheios de criticidade, pessimismo e uma boa dose de realismo, achando que o “mundo sempre foi assim”, e não será ele quem vai mudar.
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De tal modo, é preferível não se estressar, não colocar em risco a própria vida, ou consumi-la, dando “murro em ponta de faca”. É o pensamento de que é melhor ficar de fora das situações políticas, ser apenas mais um cidadão a cumprir seus deveres, pagar impostos e nada mais. O tipo: “vejo, sei, mas não ligo”. Neste pensamento, a posição é mesmo ser asa de caneco. Ficar de fora.
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Na ponta final do tri-lema, estão os que vão para guerra. Na visão de muitos, são os “loucos”, os “utópicos”, os “certinhos”, os “radicais”, etc. Pessoas que não abrem mão de suas convicções e, por incrível que possa parecer, acreditam na política como o meio de transformação da sociedade. Para melhor, é claro. “Acreditam nas flores vencendo o canhão”. Em resumo, são seres dotados de paciência, com fé no futuro, mesmo que seja para usufruto das próximas gerações. Estes têm sido o tipo mais raro.
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Em um belo texto intitulado “
Sobre Política e Jardinagem”, o educador Rubem Alves, escreve para “seduzir jovens à vocação política”. Na sua diferenciação entre os políticos por vocação, que fazem política por amor, e os políticos por profissão, quem a exerce por dinheiro, Alves, com seus argumentos convincentes, pode até seduzir jovens a se alistarem para a guerra da política, mas não deixa de fazer um reconhecimento:
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“O triste é que muitos que sentem o chamado da política não têm coragem de atendê-lo, por medo da vergonha de ser confundido com gigolôs e de ter de conviver com gigolôs”.
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Os corajosos que vão à luta precisam estar munidos de bons armamentos e munição precisa. Entre tantos “artifícios bélicos” necessários é imprescindível ter “estomago de avestruz”, “sangue de barata” e uma boa dosagem de paciência.
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Pois é. Como algum pensador (se não me engano Aristóteles) já disse, todo homem e toda mulher é um ser político. O tri-lema então está posto diante de todos. No script político que ai estar, cada um vai ter de definir o seu papel. Escolher entre um dos pontos do tri-lema é a missão. Oh! Missão.


18.11.07

Vir ver

Vim ver
Nascer
Crescer
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Atravessar a vida e
sonhar...
Sofrer...
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Viver
Vir ver
O que?
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Pretensa produção poética, um dia rabiscada num pedaço de papel e por muitos - certamente alguns anos - esquecida no fundo de uma gaveta até ser encontrada no dia de hoje.

5.11.07

Cultura é o quê?

Essa foi a pergunta exaustivamente feita pela Secretaria de Cultura desde os encontros municipais de cultura, incluindo os territoriais e até a II Conferência de Cultura em Feira de Santana.
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Ainda no mês de julho, treinamento dos Mobilizadores Culturais em Salvador, o pessoal da TVE nos fez esta pergunta e pediu que falássemos um pouco da cultura em nosso município. Aí já sabe né? Falei do cenário cultural em Irará, da Filarmônica, de Zé Nogueira... enfim.
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E enquanto a resposta da pergunta... Bem! Cultura é o quê? É uma daquelas coisas que quanto mais a gente se informa sobre, menos sabe. Na hora que a questão foi feita, assim, em frente à câmera respondi de uma forma. Em outro momento, poderia ter respondido de outra...
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Confira o vídeo gravado pela TVE.
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Obs: Estando na pagina procure por Marcos Roberto Martins – Mobilizador Cultural – Portal do Sertão.

1.11.07

Um comerciante sem pressa e amigo dos concorrentes

Nada de multidões. Amigos, familiares e antigos clientes foram os presentes ao sepultamento do Sr. Lúcio de Jesus, na manhã de ontem em Irará. Comerciante de tradição na cidade, “Seu Lúcio”, como era mais conhecido, contava 90 anos ao se despedir deste velho mundo; cruel na visão de muitos.
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Estando no enterro ou sabendo da notícia é impossível, para aqueles que o conheceram, não lembrar de Sr. Lúcio no balcão de sua loja. Lá, no estabelecimento de nome fantasia e placa indicativa como “Casa Maria Luíza”, porém mais conhecido por toda a população como “Venda de Seu Lúcio”, ele atendeu gerações de iraraenses.
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- Seu Lúcio? Tem borracha?
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- Tem meu filho; um momento.
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A pressa era mesmo inimiga do atendimento para Sr. Lúcio. Não é atoa que entre seus muitos clientes, há ainda quem se recorde que quando um comprador chegava muito apressado, com um chamado urgente do tipo “Seu Lúcio despacha aqui!”, ele então respondia: “Se tiver com pressa, pode ir comprar noutro lugar”. Às vezes as resposta vinham com um tom um tanto quanto áspero, contrastando com o perfil paciente do vendedor.
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E não foram somente os apressados os ouvintes de indicações para comprar em outra loja. Muitas vezes os clientes de Sr. Lúcio foram orientados por ele a ir comprar nos vizinhos, naqueles que poderíamos chamar de concorrentes.
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- Eu tenho aqui, mais ali em Fulano, você vai achar um com uma qualidade melhor – indicava Sr. Lúcio.
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- Olhe, aqui tem, mas, ali na loja A tem mais barato – alertava.
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Sr. Lúcio nunca deve ter freqüentado um curso de marketing, feito qualquer preparação em técnica de vendas ou lido algum método de como seduzir a clientela. Entretanto era com a sua sinceridade que ele, ao que parece, de modo nada intencional, conquistava a assiduidade do cliente. Comprar em Sr. Lúcio era ter a certeza de não estar sendo enganado.
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Diante de sua personalidade séria e popularidade, um dia acharam que Sr. Lúcio deveria ser prefeito de Irará. O calendário marcava o ano de 1970. A candidatura de Lúcio era adversária da juventude festiva da época que numa marcinha eleitoral tentava situar os lugares dos candidatos e, talvez, a “necessária” falta de seriedade na condução política. “Parrinha na Prefeitura e Sr. Lúcio no balcão”, dizia a música.
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Eleição perdida, ele continuou no balcão, ao qual foi ligada a sua imagem, onde o atendimento era personalizado. Quando não era o próprio Sr. Lúcio, estava lá Alfredinho sempre pronto para receber o cliente, portando o seu lápis na orelha. Gesto copiado pelos garotos na escola, quando brincavam de caixeiro.
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Certamente todos que freqüentaram a Casa Maria Luiza devem ter lembranças daquele ambiente. O balcão de mármore, com base de madeira; as prateleiras, algumas com portas ou gavetas; a balança típica com pesos para por num prato e fazer o equilíbrio com o outro onde estava a mercadoria; o cesto pendurado com o cordão para amarrar os embrulhos...
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Ninguém pensava em shopping centers ou mega estore, pois, lá naquele ambiente humilde se encontrava de tudo. Material escolar, cimento, cereais, ferramentas para o trabalho rural, pregos, anzol, sabão, papel jornal velho, artigos para o lar, linhas para costura, etc, etc, etc.
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Quantas e quantas crianças não já se debruçaram sobre aquele balcão para comprar “novelo de quarenta” para soltar pipa durante o verão?
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Há muito não ser ver garotos soltando pipa em Irará. Há algum tempo Sr. Lúcio não mais atendia no seu balcão. Aposentado, de vez em quando era visto à porta de sua casa, respondendo a um ou outro que passava e lhe dava um "bom dia" ou um "boa tarde". Talvez nem lembrasse quem era a pessoa, mas certamente devia saber se tratar de alguém que algum dia já foi atendido no balcão da “Venda de Sr. Lúcio”.
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* Estas linhas foram escritas com base na vivência e numa conversa com o amigo Zé Nogueira durante a missa de sepultamento de Sr. Lúcio de Jesus.


“Bar de Zé Petu” é demolido

Quem tirou foto, tirou. Quem guardou na memória, guardou. Quem não fez isso, quando estiver diante do comentário de alguém ou nas leituras das páginas das “Janelas Abertas” de Juracy Paixão, só poderá ter uma vaga idéia de como eram as instalações do tradicional Bar de Zé Petu. Local que já foi marco do encontro juvenil e da boemia de Irará.
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A edificação que era situada à Rua Manoel Julião (Calçadão) e já há alguns anos ostentava uma placa com a inscrição “Bar 07 de Setembro”, com propaganda do refrigerante “Crusch”, foi demolida. O prédio era do tempo em que se colocava a data de construção na fachada. E a data que estava lá, se não me falha a memória, ainda marcava os primeiros anos do Século XX. Agora é poeira, escavações e o sinal de uma nova construção.

24.10.07

Eu viajo quinta-feira, Feira de Santana

Vou levando “recados e pacotes”. Experiências adquiridas ao longo de uma pequena jornada de encontros culturais em municípios do Território Portal do Sertão.
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Agora, deságuam na Terra de Lucas muitos dos anseios dessa gente. Sentimentos das pessoas presentes nos encontros que mobilizei e de outros quase quatrocentos acontecidos por todo o Estado.
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É para o Sertão virar mar. Imensidão de proposições, de vontades, de diferentes visões de mundo. Evidência sutil do caldeirão cultural de uma terra chamada Bahia.
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Durante as discussões, acontecidas nos encontros municipais e territoriais, o baiano do interior expressou em nomes maiusculosos, para evitar engano, o seu entendimento de cultura.
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Para esse povo, quase sempre esquecido, reascendeu uma chama de esperança. Expectativa que desta vez algo de bom pode acontecer. Ou então que o destino se destrave longe...
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Porque no curto prazo não há totais garantias. O processo todo é meticuloso. Ouvir, discutir, planejar e executar uma política cultural consistente pode ser custoso e demorado. Maior que a impaciência, só mesmo a vontade de vê-la funcionando. Este prazer não tem medida.
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Por essas e outras, a II Conferência sinaliza para um passo importante. A intenção é criar subsídios para um Plano de Cultura para a Bahia. Planejamento este, a ser feito com base em consulta à mais de 35 mil pessoas no Estado. Um plano que possa virar lei, assim como palavra de homem, daquela que racha, mas não volta diferente.

Tão certo é que o cumprimento da missão depende também do acompanhamento, participação, colaboração e cobrança da sociedade civil. Caso contrário, todo esforço pode significar um desencontro choroso, da missão desincumprida e o plano será só mais um plano, como uma carta sem destino, nem chegando, nem voltando, ficando sem tem pousada, como uma alma penada.

Viajo quinta-feira, Feira de Santana. E é simbólico este grande encontro, com representantes de quase todos os municípios baianos, acontecer lá. A cidade é maior encontro rodoviário do norte nordeste do país. Destino certo de muitas das cartas remetidas do Correio da Estação do Brás em Sampa, para que chegando na Feira pudesse, pelas mãos de algum emissário, seguir caminho sertão adentro. Se a proposta é interiorizar, Feira de Santana é a rota de passagem.

Tal interiorização - é bom que se esclareça, porque odeio disse-me-disse e condeno a bisbilhotice - não significa o esquecimento da soteropolis e toda sua potência cultural. É apenas uma atenção especial para aquela parte da casa, outrora quase nunca apresentada às visitas.

A II Conferência Estadual de Cultura que acontece na Feira da Senhora Santana, do vaqueiro, do couro e do gibão, de 25 (quinta) a 28 (domingo) de outubro, no Campus da UEFS (Universidade Estadual de Feira de Santana), também tem espaço para o lúdico. Daí a participação de atividades artísticas, assim como a Universidade, públicas, gratuitas e de qualidade.

Tem Filarmônicas, Zabiapunga, cantiga de roda, e entre outros, Zé Celso Martinez e Elomar. De Irará estão presentes a Filarmônica 25 de Dezembro, a Burrinha de Dinê e depois de dezesseis anos sem fazer show na região e, acredito, em apresentação inédita em Feira de Santana, o iraraense tropicalista, Tom Zé. Pode crer, Tom Zé também vai... ele também viaja na quinta-feira, Feira de Santana.

* O trechos em negritos são passagens da música "Correio da Estação do Brás", de Tom Zé, integrante do LP de mesmo nome de 1978. Em The Hips of Tradicion (1992), o autor revisou a canção, mudando o nome para "Feira de Santana" e trocando o dia da semana de quinta para segunda-feira.

21.10.07

Prova de arrancada tem adiamento para fim de semana seguinte.

Segundo informação que nos chega através da Assessoria de Imprensa do Piloto Zé Adilson, da equipe... (?) (... poxa ainda não sei o nome da equipe...), não foi possivel acontecer a prova de arrancada neste fim de semana e a mesma foi adiada para o próximo, dias 27 e 28 de outubro. O piloto e toda a sua equipe de trabalho agradece atenção de todos.

18.10.07

“Zé Adilson agora é piloto de arrancada”

Zé Adilson: de mecânico a piloto

O telefone chama. Não deu pra atender de imediato. Retornei, escutei o reconhecimento do meu nome e uma gargalhada com a identificação certeira: “é Paulinho Sorriso”. Pronto. Já está devidamente apresentado. “Fala Paulinho, qual a novidade?”, digo. “Peraí que te retorno”, responde ele. Poucos segundos depois vem a ligação e a notícia: “Zé Adilson agora é piloto de arrancada”.
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Paulinho Sorriso, estudante de publicidade, atacava como assessor de imprensa do tio Zé Adilson (Zé de Juju). A sua intenção era divulgar na internet a atuação deste calouro do automobilismo que, segundo Paulinho, já em sua primeira prova na Copa de Arrancada, realizada em Salvador, foi o segundo piloto mais rápido de sua categoria. Depois, para mostrar que não era somente sorte de estreante, Zé conquistou por duas vezes a terceira posição no Campeonato Baiano de Velocidade, conforme informação do sobrinho motivado.
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E a trajetória de Zé Adilson não deixa dúvidas quanto a suas qualidades automotoras. Ele tem um perfil sete artes, como se diz no popular, já consertou relógio, trabalhou com apiário, foi candidato a vereador, presidente do Colégio São Judas e da Casa da Cultura de Irará, entre outras possíveis atividades. No entanto, é trabalhando junto aos automóveis que conseguiu lograr maior destaque. Com o nome de Adilson Carburadores (Adilson Car – depois da injeção eletrônica de combustível nos veículos) conquistou reputação, garantindo grande clientela na sua oficina mecânica em Salvador.
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O nome da terra natal vai na frente do Fusca
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Agora Zé Adilson ataca de piloto de arrancada. Sai de trás dos motores, usando o seu conhecimento sobre os mesmos, para pilotar o Fusca 37, azul e amarelo, na vontade de estar sempre à frente dos seus concorrentes. No pára-brisa vai a merchandising da terra natal: “visite Irará”. Assim comunica amar o seu torrão, da mesma forma em que fez quando daquele jingle de campanha, paródia do hit “Florentina” de Tiririca, no qual eram repetidos exaustivamente os versos: “Zé Adilson, Zé Adilson/ Zé Adilson vereador/ Ele ama a sua terra/ Ele é meu vereador”.

O Zé brincalhão, o Zé piadista, o Zé de Juju... agora é piloto de arrancada. Este esporte também já entra para o seu repertório de artes. E quem quiser conferir a atuação de Zé, no seu caminho em direção ao cockpit da Ferrari, é só ir até Feira de Santana, na Avenida Presidente Dutra, nos próximos dias 20 (tarde) e 21 (manhã) de outubro, assistir à 3º etapa da Copa Lubrax de Arrancada. Quem não for vai ter de ficar ouvindo Paulinho com esse negócio de “Zé Adilson, Zé Adilson, Zé Adilson...”

24.9.07

Artistas “como quaisquer outros”

Por Josciene Santos

Dupla de dançarinos em cadeira de rodas faz show sensual
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Com um cigarro na boca, uma roupa vermelha e sensual e uma expressão de desejo, Ninfa Cunha e seu parceiro e coreógrafo, Déo Carvalho, mostraram à platéia do II Circuito de Deficientes Sobre Rodas que deficiente também tem vícios e vida sexual. “Eu não sou exemplo para ninguém. Nem quero ser. Sou uma pessoa como qualquer outra e faço tudo o que todos fazem. E quando estou no palco, eu não estou ali para expor minha deficiência. Estou como uma artista, mostrando meu trabalho”, disse. “Eu e Déo trabalhamos muito com temas do cotidiano e com tabus. Falar da sexualidade dos deficientes, de gravidez etc., ainda é um tabu. E nós transformamos isso em dança. E buscamos passar para a platéia um sentimento que não seja pena. Provocamos o público”, afirmou.
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Ela e seu parceiro, além de outros grupos artísticos, se apresentaram logo após o fim da competição dos atletas, mediante um cachê, segundo ela satisfatório. Ninfa conta que, apesar do campo para apresentação de dança com deficientes estar crescendo, é um progresso lento. “Muitas pessoas entram em contato conosco para que façamos apresentações. Mas são raros os casos em que continuam a conversa quando informamos que cobramos uma remuneração. A impressão que tenho é que eles consideram um favor, um ato social louvável abrir espaço para que um deficiente mostre seu trabalho. E não é isso. Nós somos artistas como qualquer outro”, disse.
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* O texto acima é parte integrante da matéria "Circuito deficiente - Problemas marcam competição entre atletas em cadeira de rodas, levando equívoco ao resultado - publicada no Jornal da Facom - Edição nº 10 - válida até 15 de julho de 2007.
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Foto: Josciene Santos.
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23.9.07

Fábio Calisto marca presença em Encontro Territorial

Nos dia 17 e 18 de setembro aconteceu em Feira de Santana o Encontro Territorial de Cultura do Território de Identidade Portal do Sertão, compreendido por Feira e mais 16 municípios ao seu redor.
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O evento teve como propósito a formulação de propostas que sirvam de subsídios para a elaboração do plano Territorial de Cultura. Os municípios enviaram representantes do poder público e os representantes da sociedade civil, eleitos durante os Encontros Municipais de Cultura, mas os trabalhos eram abertos à participação popular.
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Fábio Calisto, vulgo Zé Colméia, estava lá. Ele não era representante do poder público e nem muito menos fora eleito para representar a sociedade civil iraraense. Esta vaga fora concedida no Encontro de Irará à professora Dilma Leão que lá também estava. No entanto, Colméia marcou presença e roubou a cena. Fez perguntas e atacou de porta voz.
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Calisto (de costas) chamou "a massa" pro samba
Na hora que o Samba-de-Roda tocou, iniciou o movimento que deu vazão à boa parte da platéia levantar das cadeiras da Sala Teatral do Centro de Cultura Amélio Amorim e cair no samba.
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Também entraram na roda de samba alguns diretores da Secretária de Cultura do Estado (Secult), a Superintendente de Cultura, Ângela Andrade, e até mesmo o Secretário de Cultura, Márcio Meirelles, interpelados diretamente por Fábio Calisto.
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No momento da apresentação do Grupo de Chorinho, Calisto quase que conduziu todo o repertório sinalizando para que fossem tocadas algumas músicas de sua preferência.
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Mesmo com toda esta agitação no dia dezessete, Zé Colmeia continuaria surpreendendo. Na terça-feira (18) ele foi eleito o representante do Grupo de Trabalho do tema “Expressões Artísticas”, para apresentar as propostas da equipe na plenária final do Encontro. Para conseguir esta vaga, Calisto venceu a eleição contra uma pessoa do movimento cultural de Feira de Santana, obtendo cerca de 27 votos em um grupo com pouco mais de 40 pessoas.
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Com microfone na mão, diante do palco do Amélio Amorim, Fábio não se fez de rogado para apresentar as propostas de seu grupo. Entre os sete representantes de grupos de trabalho, a apresentação dele foi a que mais demorou. Não só pelas propostas e sub-temas, que eram os mais extensos, mas também pela oratória do rapaz.
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Ao explicar as propostas, Calisto falou da Filarmônica 25 de Dezembro, nas suas palavras: “a furiosa de Irará, onde eu sou músico”. Depois recorreu à Tom Zé, lembrando que na terra natal do tropicalista, a música dele não é ouvida e o seu trabalho quase desconhecido.
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Quando a Secretária de Cultura de São Gonçalo falou que “não é só Tom Zé”, mas que deveria ser lembrado também um renomado músico São Gonçalense (esqueci o nome agora rsrsrsr) que é sucesso na Europa, Calisto usou do seu “direito de resposta” para dizer que conhecera o maestro de São Gonçalo e fora aluno do mesmo, portanto quando citou o cantor e compositor iraraense não quis desmerecer ninguém.
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Mesmo sem estar de posse de sua clarineta, Fábio Calisto deu seu show no Amélio. A coisa foi tal, que quando a representação de Água Fria pontuou sobre o alto investimento que se faz naquela cidade para levar o CALIPSO, pensei em sugerir que eles levassem o CALISTO que, ao menos deduzo, deve seguir aquela receita apresentada num dado palanque na campanha de 2000: “cobrar um cachê mais barato; que a prefeitura possa pagar”.
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Pois é, com seu perfil participativo, Calisto foi, aos poucos, chamando a atenção das pessoas. Um dos diretores da Secult me sinalizou para a “disposição daquele rapaz de Irará”, respondi que naquele indivíduo tem alguns caracteres do “típico iraraense” e se esse encontro fosse feito na “terra da farinha” era que ele ia ver o tanto de figuras que poderiam aparecer...
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Não sei se estou certo, mas imagino que o evento deve ter provocado algum tipo de empolgação no jovem Calisto. Penso que por agora ele já pode até estar maquinando estratégias para a sua possível segunda candidatura a vereador nas eleições do próximo ano.
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O tempo é que vai dizer. Agora que Fábio já tomou o “ônibus do PMDB”, esse pensamento pode ser só mais uma “viagem”, ou então, pode vir a ser real. A julgar pelo destaque do rapaz no Encontro Territórial, não só os pré-candidatos a edis, mas os postulantes à Assembléia Legislativa em 2010 já têm um sério concorrente.
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10.9.07

BA 084 registra elevado índice de acidentes

Nos últimos meses, acidentes com veículos de carga pesada têm sido constantes na rodovia BA - 084, estrada que vai da BR 324 e BR 101 até água Fria, passando pelos municípios de Conceição do Jacuípe (Berimbau), Coração de Maria e Irará. Somente no mês de agosto passado, três caminhões tombaram, sendo que um delas incendiou e o motorista morreu. Na madrugada do domingo (09/09), para a segunda (10), outro virou próximo à curva da pedra, entre Berimbau e Coração de Maria, interditando o trânsito neste trecho por toda a manhã de segunda.
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De acordo com depoimentos de moradores às margens da rodovia, ultimamente o trânsito deste tipo de veiculo ficou intenso durante a madrugada. Passageiros e motoristas, usuários da linha, suspeitam que o aumento do fluxo de transporte de carga na rodovia tenha sido ocasionado pela instalação de uma balança rodoviária na BR 116 – Norte, próximo à cidade de Feira de Santana. Eles acreditam na possibilidade dos caminhões estarem utilizando a rota da BA 084 como um desvio, já que certamente estariam com a carga acima do peso máximo permitido pela legislação de trânsito.
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Na rota alternativa, os caminhões sairiam da BR 324 através da BA 084 até a cidade de Irará, quando entrariam na BA 504 (Alagoinhas – BR 116) e passariam pelo município de Santanópolis até chegar à BR 116 Norte, na altura do posto Trevo (após a balança), daí em direção ao norte do estado através de Serrinha ou de Richão do Jacuípe.
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Situação pode piorar
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Mesmo sendo toda reformada em 2005 as condições da rodovia BA 084 não são das melhores. Já é grande a quantidade de buracos em vários trechos, a sinalização horizontal quase que não mais existe e o mato começa a encobrir a pista em alguns lugares. Unindo estes aspectos ao trajeto da pista, ainda mais perigoso para o motorista que não a conhece, aumentam-se os riscos de acidentes. Esta situação pode ficar pior com o acréscimo do fluxo de veículos de carga.
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Caso a suspeita da população com relação à fuga da balança seja real, a tendência é que o piso da rodovia fique ainda mais comprometido. Na hipótese dos veículos estarem com o excesso de peso permitido para uma pista federal, bem melhor estruturada, é de se imaginar que este excedente é mais nocivo para as estaduais.
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As carretas com excesso de peso se comportam como inimigos do “regime” e fogem da balança. A obra Federal, iniciada no governo Sarney (1985-1989) e que só veio funcionar no governo Lula após a reforma da BR 116, agora segue no seu objetivo de fiscalizar o excesso de peso na BR e a BA 084 é quem possivelmente sofre as conseqüências da fuga da lei. Pode ser que vala o ditado: quem pari Mateus, balança.

26.8.07

A tarefa de mobilizar


A Secult (Secretaria de Cultura da Bahia) vai realizar a II Conferência Estadual de Cultura. O evento, que acontece em Feira de Santana de 25 a 28 de outubro, tem como uma de suas finalidades discutir idéias e elaborar propostas, no intuito de subsidiar a construção de um plano de cultura para o Estado.
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O desejo da Secretaria é que a Conferência possa contar com a participação efetiva de todos os municípios baianos. Para isto, abriram-se vagas para a contratação de 30 Mobilizadores Culturais, os quais serão responsáveis por mobilizar o poder público e a sociedade civil organizada de cada cidade, incentivando-os a participar do processo.
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Topei o desafio. Entrei no site da Secult e me candidatei à vaga para o Território Portal do Sertão, formado por Feira de Santana e outros 16 municípios à sua volta, Irará incluso – é claro. Análise de currículo, entrevista e prova discursiva, fui selecionado! Logo em seguida, estávamos em Salvador para uma semana de treinamento.
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Aulas com técnicas para reuniões, palestras e apresentação. Em sete dias, posso falar com precisão, conheci gente de vários jeitos e lugares da Bahia. Diferenciados olhares, modos e sotaques de um Estado que, como já foi dito, é singular e plural. Muitos empolgados, alguns inseguros e todos conscientes do seu papel de organizar encontros municipais e depois territoriais de cultura, elegendo representantes para a Conferência.
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“Mobilizar”, essa agora é a nossa tarefa. Organizar e chamar as pessoas para pensar e discutir a cultura em seus municípios, nos seus territórios e no nosso estado. O tempo é curtíssimo e o trabalho imenso. Que Deus seja por nós!
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23.8.07

As visitas de governadores e seus feitos.

texto enviado para iraraense@yahoogrupos.com.br em 20 de maio de 2005.
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Estive em Irará no último final de semana e o assunto em questão era a visita do governador Paulo Souto ao município na sexta-feira, 13. Cheguei no sábado e, desta forma, não pude presenciar as palavras de sua excelência. Todavia, tive breve conversa com alguns conhecidos que me relataram o "script" do evento.
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Em meio a um comentário e outro, terminei passando batido e não questionei o que Souto fora fazer em Irará. Agora, desculpando-me pela falha, informo que a minha porção dedutiva, relacionada às noticias publicadas em jornais locais, levam-me a crer que o Sr. Governador foi anunciar a reparação da rodovia BA 084 (Berimbau – Água Fria). Sinal de que os governantes querem estar mais próximos do povo, pois, antigamente eles só visitavam as bases eleitorais quando iam inaugurar obras, agora também vão anuncia-las.
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Se o costume pegar, as populações interioranas já podem ir agendando, mais ou menos, as datas em que os governantes estarão presentes. Isto porque algumas obras, mais especificamente estradas, parecem feitas com prazo de validade definido. Ou seja, o asfaltamento colocado é de tão ruim qualidade que com poucos anos sob a chuva e o trafego a buraqueira está de volta. Em alguns casos as obra rodoviárias parecem ter, "coincidentemente", o período de quase quatro anos. E de quatro em quatro anos, todo mudo sabe, tem copa do mundo e mais alguma coisa que não me lembro agora.
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Como a memória no momento me trai, melhor apelar para a reflexão e lembrando dos comentários, fico pensando de como deveriam ser e de como são as tais visitas de governadores.
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De como deveriam ser.
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As cidades geralmente possuem muitos problemas. Sendo uma cidade interiorana, acrescenta-se um, que é justamente o distanciamento do governo e do governante. De tal maneira, seria interessante se quando o poder executivo estadual visitasse uma cidade interior – por vezes isso só acontece uma vez no ano ou nem isso -, as autoridades locais promovessem um grande debate de idéias entre o governador e a sociedade civil organizada. Assim, a comunidade poderia apresentar as suas queixas, evidenciando todos os problemas existentes sob a esfera estadual, como os da saúde, da educação, de segurança, entre outros.
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De como são.
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Os governantes já vão de helicóptero. Além de a viagem ser mais rápida eles ainda evitam o enduro da rodovia. As visitas são curtas, pois na agenda do executivo existem dezenas de outros lugares a serem visitados. Enquanto a estrutura que se monta na cidade para recebe-los é digna de um enredo cinematográfico. As crianças ficam sem aula, para poder ver tão imponente autoridade. Um palanque seguro é montado na praça, pois serão muitos a querer subir, desde os adversários locais até os vários deputados, cada um reclamando para si a autoria da indicação da obra. E faixas de agradecimento estarão por toda a cidade, parecendo que o governador já fez de um tudo pelo município.
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"Um Governo que fizer tudo,
mas não fizer estradas, não
fez nada; ao passo que
um Governo que não fizer quase
nada, mas fizer estradas, fez tudo."
(Coronel Andreazza, em entrevista a um matutino)
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Encontrei a declaração acima num livro do Stanislaw Ponte Preta, ela iniciava o capitulo intitulado "Na terra do crioulo doido", que junto com "A máquina de fazer doido" (a televisão) e "FEBEAPÁ 3 (Festival de Besteiras que Assolam o País), formam a publicação de 1968. Uma feliz coincidência ler esta passagem justamente nesta semana. É, pode crer. Coincidências acontecem, algumas sinceras, outras nem tanto. E as empreiteiras agradecem.

5.8.07

Na rede: A militância política e cultural de Aristeu Nogueira

Já está disponível para download no site do CULT (Centro de Estudos Multidisciplinares em Cultura) da Faculdade de Comunicação da UFBA (Universidade Federal da Bahia) a monografia Aristeu Nogueira: A militância política e cultural de um comunista.
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O texto é fruto da pesquisa sobre a atividade militante de Aristeu Nogueira nos campos da política e da cultura. Entre episódios da história do Brasil e da Bahia, o leitor pode conhecer a participação deste grande homem público iraraense, desde sua entrada no movimento estudantil em 1938, a sua atuação no Partido Comunista, até seu papel de liderança na elaboração da Lei Orgânica do Município de Irará. No segmento cultural, o trabalho evidencia as iniciativas de Aristeu na fundação do CDC (Centro de Diversões e Cultura – 1942) e da CCI (Casa da Cultura de Irará – 1983).
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A monografia foi apresentada como Trabalho de Conclusão do Curso de Comunicação Social com habilitação em Produção de Comunicação e Cultura da Universidade Federal da Bahia. O texto sofreu críticas pertinentes e, juntamente com a pesquisa, foi elogiado pela banca que incentivou a continuação da pesquisa num possível projeto de mestrado e, quem sabe, uma posterior publicação.
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Particularmente fiquei muito feliz pelos comentários e principalmente por poder dá essa contribuição para a história e memória de Irará, valorizando a figura ilustre de Aristeu Nogueira.
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Para ter acesso ao texto em PDF clique aqui e procure por:
Santos, Marcos Roberto Martins dos. Aristeu Nogueira: A militância política e cultural de um comunista.

23.7.07

Outra chance para MM

Por Fernando Conceição*
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Publicado na Coluna Opinião na edição de 17 de janeiro de 2007 do jornal A TARDE
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Fora a patacoada de querer vender o Teatro Castro Alves por 30 moedas na gestão Waldir/Nilo Coelho (1987-1990), nada consta contra Márcio Meirelles (MM), o novo titular da Secretária de Cultura da Bahia. Não é ironia.
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A cultura, em todo lugar, é área estratégica desde que perdeu a inocência com o desenvolvimento capitalista. Com novos contornos adquiridos a partir da virada do século XX, tornou-se objeto de investimento, virou mercadoria. Confundida por Arte, presta-se à manipulação político-ideológicas de toda ordem, despindo-se da “aura” dos tempos românticos e quejandos, como observou Walter Benjamin (1892-1940).
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Simploriamente dita “o amálgama” que liga ou distingue indivíduos na sociedade, levando-os a compartilhar gostos, crenças, tradições, isto é, definindo identidades, a cultura também é arma poderosa. De combate ou subserviência.
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Entregue às mãos de arrivistas (aqui não falo de Paulo Guadenzi e seu séquito anterior, ele que entendia tanto de cultura como eu de mecatrônica), seu papel tem sido fortalecer e manter o status quo.
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É o que em larga medida acontece na Bahia/Brasil. A gestão cultural, invariavelmente, se dá à revelia daqueles produtores que resistem ao cabresto. É um negócio, no sentido comercial do termo, que vem enriquecendo os afortunados de sempre ou àqueles - empresários e artistas - admitidos na corte por competência ou em sua submissão. O espetáculo do Carnaval é o palco do puxa-saquismo que mais uma vez se repetirá, ontem como hoje.
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MM precisa romper com este circulo. Seu ex-chefe, José Carlos Capinam, quando no comando, frustou as expectativas do “governo da mudança”, derrubando parte da tese de Platão, de que a sociedade deveria ser comandada por filósofos e poetas. Na época, nada mudou e até piorou, a exemplo do fechamento do TCA depois que o plano de sua venda a empreiteiras foi frustrado.
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Dirigir-se ao interior do Estado, não apenas o Recôncavo, deveria ser uma tendência. Não como ato de cooptação partidária de políticos e agentes culturais, porque desta taboada estamos fartos.
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Valeria a pena MM chamar para uma conversa gente dos rincões, pessoas como Roberto “Irará” e Zé d`Abel. O primeiro tenta realizar sério trabalho no município do qual empresta o nome. O segundo, autodidata lá do sertão brabo do Raso da Catarina, há anos tem sido, para o bem ou para o mal, o mais importante produtor de eventos da região do norte, nas duas margens do Rio São Francisco.
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MM tem sorte. Wagner deu-lhe a quarta chance, depois de sua melancólica passagem anterior pelo poder. A terceira foi oferecida pela associação gestora do Teatro Vila Velha, que Meirelles com hábeis alianças a torto e à direita, recuperou e transformou em referência. A segunda e mais importante, deve a João Jorge Rodrigues, o putativo presidente do então bloco afro Olodum. Foi este que resgatou-o do limbo no qual foi largado pelos waldiristas, permitindo-lhe que montasse uma companhia de teatro que se tornou revelação nacional.
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A marca fortemente identificada com o capital simbólico da “cultura negro-mestiça” do Olodum, faz com que MM tribute a esses negros o cargo que ora ocupa. Embora tais negros e todo aquele capital permanecem no mesmo lugar de sempre: com poder esvaziado e com o saldo bancário em vermelho.
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* Fernando Conceição é jornalista, Doutor em Ciências da Comunicação pela USP e Professor da Facom-UFBA. Tem história de militância no movimento negro e quando da escrita deste artigo estava como professor visitante da Universidade de Berlim / e-mail: ferconc@ufba.br

16.7.07

A ética entre estéticas

Parece moda. Numa ou noutra temporada o noticiário vem carregado de fatos envolvendo fraudes e corrupção. Os telejornais começam como se fossem metralhadoras atirando aos quatro cantos uma carga de atrocidades. Da sua poltrona, o espectador, já acostumado a ouvir falar tanto de roubalheira, nem mais se assusta como deveria, ou ao menos, como seria esperado.
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É sintomático estarmos vivendo o efeito do que em jornalismo costuma-se chamar “Disfunção Narcótica”. Em outras palavras, diante um bombardeio de notícias de roubo, é como se o indivíduo ficasse sob efeito de algum narcótico e, assim “dopado”, não mais se indignasse com os atos arbitrários. De tal forma, o sentimento e a disposição com relação à boa conduta vão ficando em segundo plano.

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Rui Barbosa chegou a prever que de tanto ver triunfar as más ações o homem chegaria a rir da honrar e ter vergonha de ser honesto. A preocupação do jurista com o comportamento ético do ser humano parece alertar para um tempo de inversão de valores. As ações que antes seriam motivo de orgulho se transformariam em razão de vergonha. A ética então deixaria de ser uma prática e, ainda que fosse uma regra normativa por algum tempo, depois tenderia à completa desaparição.
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Sensações como orgulho ou vergonha, nós fazem perceber que a ética estar permeada de componentes estéticos. De tal modo, a prática ética é também um sentimento estético, do campo da sensibilidade do indivíduo. Entre outras assertivas, o receio da opinião pública ou a possibilidade de decepcionar pessoas do seu círculo de convivência é um dos principais motivos que impedem o “sujeito normal” de cometer uma atrocidade. É o popular “vergonha na cara” que, pelo visto, anda faltando a muita gente por aí.
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Herman Parret considera que: “justificamos o valor da prática humana, das relações intersubjetivas, da produção discursiva, apelando para categorias éticas que, por sua vez só podem ser legitimadas por categorias estéticas”
[1]. E mais adiante complementa: “É a categoria estética do sensu communis que nos serve de valoração legitimadora de toda a prática intersubjetiva da vida quotidiana”[2]. Este tal “sensu communis” aqui entendido, de acordo com a visão de Kant, como uma “capacidade de julgar que, em sua reflexão, considera (a priori) em nosso pensamento o modo como todas as outras pessoas representam uma determinada coisa”[3].
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Na busca pela “valoração legitimidadora” para os seus atos, o indivíduo tende a agir de forma similar aos outro sujeitos sociais, ou seja, priorizar “o modo como todas as outras pessoas representam”. Aí é que, para usar um termo do dito popular, a “porca torce o rabo”, pois, sendo um ser social, não é da natureza do homem viver isolado. E como ninguém quer “estar por fora”, tal o qual se diz na gíria, a intenção é fazer da mesma forma que todos os outros (sensu communis) fazem. Logo, o honesto se trans-forma no otário, aquele que “não soube aproveitar as oportunidades”.
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Assim, a inversão dos valores vai atuando desde a formação do pequeno cidadão. As crianças são estimuladas à competição, ao consumismo e ao uso de comportamentos dignos de reprovação. Não é difícil ver pais incentivando filhos a falarem palavrões para outras pessoas e depois rirem da sonoridade causada por um vocabulário em construção. Diante do riso coletivo, a criança sente aprovação geral (sensu comunnis) do ato e entende a sua fala como digna de elogio.
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Comportamento diferente teve a mãe que vangloriou um gesto nobre do filho. O fato da criança ter corrigido o troco errado de um caixa de supermercado foi motivo para que o menino tivesse ouvido sucessivos elogios da genitora entre as amigas dela. Em busca de novas “condecorações” diante de sua mãe (representação maior para uma criança) e do público (sensu communis), o garoto torcia pelo erro do troco toda vez que ia ao supermercado, somente para poder praticar a sua boa ação e ganhar elogios.
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Os casos descritos acima, são apenas exemplos simplórios de contribuições para a formação de valores pessoais. É correlato imaginar que a criança do segundo exemplo, diante de atitudes como a descrita, cresceria tendo a honestidade e a coerência como valores a serem perseguidos e admirados socialmente. Quando adulto teria por principio agir honestamente nas suas ações. Consequentemente teria dificuldades e sofreria muito para viver numa sociedade, onde os valores estão em processo de inversão.
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Entre outros, os valores estéticos apresentam-se com freqüência nesta rota invertida. Confundem-se entre o termo introduzido por Baumgarten para designar Estética como a “ciência (filosófica) da arte e do Belo”[4] e a nomenclatura com vista constante em letreiros anunciando centros de “beleza e estética”. O primeiro termo se apresenta como a “doutrina do conhecimento sensível”[5], estando ligado à sensibilidade apontada noutros pontos deste texto. O outro, diz respeito a beleza efêmera do mundo das aparências, do fugaz, da moda.
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É nesta segunda perspectiva estética que a ética têm aparecido no noticiário. Principalmente quando surgem com maior freqüência os casos sobre desvio de dinheiro público para beneficio particular. “Ética” passar a ser usada como a palavra da moda. Nos discursos políticos, nos programas de debates televisivos, no pátio da escola. De repente, todo mundo tem soluções mágicas e formulas prontas para o exercício da ética. No entanto, é na própria vivência do dia a dia que a mesma não é exercitada. O velho “faça o que eu digo, não faça o que eu faço”.
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Se os indivíduos ainda pensam em solucionar problemas éticos, é preciso agir na própria sensibilidade. Para isso é importante o papel da família (como no exemplo descrito), da escola, do governo e da mídia, entre outros agentes sociais. É necessário ir na contra-mão da disfunção narcótica. Mostrar, valorizar e vangloriar práticas e comportamentos éticos. A intenção é que o indivíduo sinta prazer e orgulho de agir com responsabilidade para com outro. E que os “bons meninos” não tenha dificuldades para sobreviver.
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Pode até soar estranho falar em “Ética” neste momento em que as manchetes, diferente de outrora, estão um pouco escassas de escândalos políticos. Época em que o termo “Ética” não está na moda. Não obstante, a intenção é esta mesmo. Valer-se de um assunto “démode”, para ter possibilidade de falar ao sensível. Direto à sensibilidade e não a aparência efêmera.

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[1] PARRET, Herman. A estética da comunicação, p 187. Tradução de Roberto Pires de Oliveira. Ed: Unicamp. SP 1997.
[2] Idem
[3] Idem, p. 194, 195.
[4] ABBAGNANO, Nicola. 1901 - 2ed, pag. 348. Tradução coordenada e revisada por Alfredo Bosi. Ed. Mestre Jou - SP. 1982.
[5] Idem.
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Ilustração por Gabriel Ferreira

Escrevi este texto especialmente para o jornal FUXICO, uma publicação do Núcleo de Investigações Transdiciplinares - Departamento de Educação – UEFS (Universidade Estadual de Feira de Santana. O mesmo foi publicado na Edição Nº 9 – Ano V – Dezembro – Abril de 2007, pág. 5 e 6.

A escrita se deu num curto espaço de tempo sem escândalos de corrupção no Brasil. Logo em seguida, começou a aparecer os juizes que vendiam sentença, a Gautama, Renan, Roriz...

1.7.07

Defesa de Monografia


O coroamento de mais uma etapa. Avaliação final para concluir a graduação. Esta apresentação é uma prova motivadora, pelo significado da conclusão, pela própria monografia e pelo tema nela discutido. A militância política e cultural de Aristeu Nogueira, grande homem público do Irará.
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Apresentação de um trabalho que demandou boa dosagem de pesquisa, leituras, conversas, entrevistas, avaliação de material e redação. Esta última, desenvolvida em pouco mais de um mês de “confinamento”. Empolgação, ansiedade, preocupação. Por vezes, cheguei a pensar que não concluiria o trabalho a tempo. Enfim, conseguimos. Agora, cabe à banca avaliar.
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De antemão, acreditamos que o assunto poderia ser ainda mais explorado. Entretanto, as condições não possibilitaram um maior aprofundamento e pesquisa acerca dos quase setenta anos da atividade militante de Aristeu Nogueira. Quem sabe noutro momento.
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Aproveito para agradecer a todos que contribuíram para a realização desse trabalho, familiares de Aristeu, professores, colegas, amigos, entrevistados, familiares, e tantos outros. Espero que vocês possam estar presentes no dia da apresentação e que possa acontecer tudo da melhor maneira possível.
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Aos que desejam ir à apresentação, uma dica:
Na mesma sala, às duas horas da tarde, irá ocorrer a defesa da monografia da amiga Vânia Medeiros, formanda em Jornalismo. O trabalho de Vânia discute o CPC da UNE (Centro Popular de Cultura da União Nacional dos Estudantes) da Bahia. O histórico desta entidade cultural, também é marcado pela influência de militantes do Partido Comunista.
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Como se percebe, será um dia de comunistas. Primeiro os “comunistinhas” do CPC, depois o comunistão Aristeu Nogueira. Se você for criança, cuidado para não ser comida... rsrsrsrrsr.

29.6.07

Brevitas Bravatas - São João 2007

Curtindo num curto São João
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O período joanino este ano foi curto. Curtíssimo. A festa foi limitada a um fim de semana comum. Sexta, Sábado e Domingo, sem feriadão. Junto com este fato, a condição pessoal de estar, de alguma forma, participando da produção do Bloco Jeguerê, limitou ainda mais o tempo para curtir a festa. Fiquei com pouco espaço para se divertir e para observar. Porém, de qualquer sorte, sempre aparece algumas resenhas e informações para a gente prolongar os assuntos.
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Arrasta Pé da J.E. o São João de Irará começava lá
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Na expectativa de aumentar o tempo dos festejos, sair já na quinta-feira à noite pensando em ir até o Arrasta Pé da J. E.. Entretanto, este forró ficou só no pensamento mesmo. Na cidade ninguém dava notícia da Festa da Rua José Epaminondas, que nos últimos anos têm sido uma espécie de abertura extra-oficial do São João de Irará. Fiquei sem informações até que um “e-mail” me comunicou a suposta razão pela inviabilização do Arrasta Pé. Segundo o informante, a Prefeitura não teria cumprido a promessa de fornecer palco e sonorização para o evento. Entretanto, antes que começassem os rumores dos oposicionistas, soube que o apóio houvera sido transferido para a data de São Pedro. Da próxima vez, a transferência pode ser para a data de São Tomé.
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A viúva. Sempre “erlas”
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Ê viúva que gosta de ser comentada viu-ô! No Orkut o povo danou a protestar sobre a programação da festa pública. Assim fica difícil deixar de falar na viúva que como canta Bem Jor, “tem um dote físico-financeiro invejável”. Para cuidar de todo esse patrimônio e assumir a responsabilidade é preciso ter equipe. Contudo, na república da farinha a palavra decisiva só poder vir do namorado da viúva. Então fomos saber do Excelentíssimo Senhor Prefeito, se a Praça da Purificação poderia ou não receber o encerramento do Bloco Jeguerê.
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Conversando a gente se entende
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Enquanto isso no gabinete do prefeito... A conversa foi amistosa. Bate papo quase que informal. Impasse resolvido. Diante do retrato de Paulo Souto, que ainda se encontra por lá (??) a autorização foi dada. O Bloco teve liberação verbal para entrar na Praça pela Rua Campos Martins, desde que não quebrasse nenhuma bandeirola da ornamentação pública. Para o Jeguerê foi fácil, com alguma manobra no mine-trio, chegaria à Praça, difícil ficou para o Pé de Mula. Mesmo tendo, mais uma vez, na sua programação o maior nome artístico do São João de Irará (Adelmario Coelho), o bloco não teve acesso à praça principal.
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São João da Bandeirola
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Não tem Jeguerê, nem Adelmário Coelho certo, após a conversa com o chefe do executivo do município, fiquei com a ligeira impressão de que a atração principal do São João de Irará são as bandeirolas. É, a moral da bandeirola anda mesmo alta, percebi isso diante da preocupação do prefeito e da explanação do fato de que, em 2006, o Jeguerê quando entrou na praça quebrou algumas fileiras de bandeirolas. Ele fez questão de pedir que o fato não se repetisse de maneira alguma. Por isso, se fez de tudo para que as bandeirolas continuassem reinando imponente, sobre os postes enferrujados que, ao que parece, foram retirados do canteiro central da Av. Elisio Sant’ana, para serem camuflados com tecido decorativo na praça. Como se percebe, essa administração dedica atenção especial para o item ornamentação, parece que a festa funciona em função do ornamento e não o contrário.
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A cereja sem bolo
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O item decoração é importante em qualquer festa. É como o próprio nome já sugere, seja falando “de coração” ou “de coroação”, a decoração dá toque final para abrilhantar o evento. É como se fosse a chamada “cereja do bolo”. Nesse setor, a organização das festas públicas de Irará tem demonstrado interesse. Seja na lavagem, com a montagem de uma boneca vestida de baiana derramando água, na grata homenagem a personagens iraraenses ilustrados nas suas caricaturas; ou no São João, através dos “pórticos” e representações de elementos como fogueiras e cisternas. Todavia, parece que se preocupam tanto com a ornamentação que esquecem de outras partes da festa e da estrutura da cidade para a mesma. Não dá só pra comer a cereja, sem o bolo.
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E por falar em estrutura...
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Irará, com suas praças, comporta tranqüilamente o desfile simultâneo dos blocos Jeguerê e Pé de Mula. Bastaria organizar os serviços de segurança, saúde e, claro, a estrutura da festa. Todavia, com a instalação de “pórticos”, impedindo a passagem de blocos, e a não sinalização e regularização do trânsito, fica difícil. Na reunião com o prefeito foi garantido que não seria liberado o estacionamento nos trechos do circuito do Bloco Jeguerê. Só que na hora do desfile o bicho pegou. Quem acompanhou o arrastão viu a atrapalhação que foi o bloco tendo de parar, de pedir para retirar carro, de decidir se desviava rota ou não, de... “Um absurdo” – como diria risadinha do “seu Valela”. Ainda bem que sem chuva, não tinha carro atolado, já pensou?
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Atoleiro artístico
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Se carro não atolou a mesma sorte não teve a programação artística do palco principal. A deste ano foi muito criticada e parece refletir a idéia de que o São João de Irará não tem merecido o devido planejamento. Entre os ilustres grupos desconhecidos, chamou atenção da cidade a banda Vaca Atolada. O ônibus da banda, trazendo seus integrantes, chegou com uma semana de antecedência. Depois permaneceu, porque dia 02 de Julho se apresentam em Ouriçangas. Um popular logo bradou, “uma banda que numa época dessas não tem onde fazer show, ficando esses dias todos em Irará, é porque não presta”.
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Sem ver o show, mas sabendo das conseqüências do atoleiro
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O cansaço e os compromissos me impediram de acompanhar os shows na praça. Malmente assistir à consulta do Dr. Xote na sexta. Não conseguir averiguar se o Bondy da Loirinha era uma banda de forró ou de Funk, como desconfiou nosso amigo Vitor Oliveira. E, consequentemente, não assistir apresentação de nenhum senhor beltrano e muitos menos da Dona Fulana. Houve quem me dissesse que a banda Vaca Atolada é ruim, que tinha um repertório desconhecido e usava de muita baixaria. Como eu não vi, não sei e também não posso julgar. Só sei que no dia seguinte, a distribuição de leite numa Padaria da cidade foi comprometida. Os clientes chegavam e a entrega do produto estava atrasada. Acho que teve vaca atolada na fazenda também.
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Na roça e na cidade
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Os tradicionalistas que me desculpem, mas não tem jeito. A cultura não é imobilista, nem estanque. É também o que se inventa e o que permanece. Nessa misturada toda, a onda de arrastão pegou. Em Irará, seja na roça ou na cidade eles pipocam em todo lugar. Vi as imagens de um arrastão na zona rural, cuja música nem era basicamente forró. Tendo como fundo musical um som carnavalesco, o arrastão seguia levando a multidão. Embora não se usasse cordas, a cena lembrava o desfile dos blocos de carnaval em Salvador. A estrada tomada pelas pessoas, era como se as cercas de arame farpado fossem as cordas e o mato verde em volta, os foliões pipoca.
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“Traga uma corda irmão. Irmão acorda!”
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É como canta Cazuza, mas é melhor ser “cobaia de Deus” do que prova de teste para o imprevisto. Tudo pronto para o Jeguerê sair e não apareceu sequer a metade dos cordeiros contratados. O que fazer? Nessas horas busca-se um plano B, C, D, E... Existe alguma alternativa para uma situação como essa? Difícil. Aí surge todo tipo de especulação. Propina, suborno, etc e tal. Não sabemos, não vimos. Serve de lição para acordar, não confiar cegamente até mesmo nos velhos parceiros. O jeito que teve foi colocar a mão na massa. Nós mesmos ajudamos a desembaraçar, esticar e segurar corda. Afinal o cliente é que manda. E pelo visto a grande maioria queria mesmo garantir o seu espaço privado, dentro das cordas.
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Festa pública ou privada?
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A internet representa um grande espaço comum. Tá na rede, é mais que peixe, é público. Seja blog, site ou Orkut. E foi justamente no Orkut que fiquei sabendo sobre um evento chamado Sexta do Cabeça Junina. Inclusive com comunidade relacionada a outras comunidades de grande aceitação. Depois a cobertura fotográfica do evento estava num sitio de internet. Entretanto, como a atividade era numa residência particular, fiquei sem entender se o evento era público ou privado. Na dúvida preferi não entrar. Parece que a festa tem pretensões de crescimento, acontecendo novamente no próximo ano, mas ainda continuo na dúvida. Talvez seja preciso que os organizadores do evento decidam qual caráter ele deve tomar. Se for público, que seja público. E se for privado, que se conceda ao menos uma credencial para a “imprensa” blogueira. Se o repórter não se atrasar, o convite pode até valer uma nota na “coluna social”. (Brincadeirinha viu? – não temos o perfil Renato Mendes - rsrsrs)
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Antecipação, atraso e descompasso com a hora do reggae
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Assim como aconteceu a Sexta do Cabeça Junina, também foi realizada a Sexta para “fazer a cabeça junina” na Casa da Cultura, ao som do reggae e de forró. A festa com Nação Karirí e Camarada Z estava marcada para começar às 16h. Cheguei lá por volta das 17h e ainda não tinha começado. Aproveitei o tempo para ir cuidar de outras coisas, adiantar algumas tarefas etc e tal. Eram quase 22h quando retornei e pra minha surpresa, os shows já tinham acabado. Fiquei o São João sem ouvir o som dos guerreiros Karirís. Há quem diga que ao final da festa houve uma troca de socos entre dois amigos. Porém, no outro dia avistei os dois brothers conversando. Daí pensei, das duas uma: ou tudo foi boato, ou os caras já havia acendido o cachimbo da paz.
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Um panfleto com mais do mesmo
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No sábado, véspera de São João, circulou um panfleto pela cidade, mas não era pedindo paz. Subscrito com o nome do Prefeito, a carta trazia um título clichê do clichê (Nunca se fez tanto em tão pouco tempo) e tentava abordar “obras” da gestão municipal. O texto parece ser de campanha eleitoral ou de um governo recém iniciado e não de uma gestão em seu penúltimo ano de mandato como é o caso. O verso da folha trazia a repetição de várias fotos de “obras”, que já apareceram em outro panfleto, no Natal do ano passado. Se a idéia é transmitir uma boa imagem do governo aos visitantes, o tiro pode sair pela culatra, porque a repetição deixa uma idéia de que a gestão nada fez do Natal ao São João. Fez? Se a impressão é o que fica...
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O que vai ficar.
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Paz, amor e boas lembranças é o que desejo que fique como lição e memória deste São João. No mais, ficará o sucesso e satisfação do público para a grande festa que fez o Jeguerê. A lembrança da casinha de taipa, tentando mostrar um caráter típico, com trio de sanfoneiro tocando, mas nada funcional e super mal localizada. E, principalmente, dentre tantas outras lembranças, o encanto e satisfação cada vez mais vibrante dos visitantes com Irará. Apesar dos pesares, terra de gente hospitaleira e irreverente.
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