27.5.08

Ensaio de um artigo para o Enecult

Não me foi possível escrever um artigo para o IV Enecult. Como não vou apresentar lá, resolvi apresentar aqui. Não se trata de um artigo, com citações, embasamento teórico ou outras “coisitas” acadêmicas que este tipo de publicação pede.

Coloquei no papel apenas algumas idéias que eu pretendia escrever para o tal artigo. Por isso, chamei o tal de “ensaio”. (veja post anterior).

O Enecult um espaço privilegiado de discussão. Nele estão compreendidas as mais diversas áreas do conhecimento, tendo atenção para o campo cultural. Entre as sessões mais concorridas para a apresentação de artigos acadêmicos, está o debate sobre as Políticas Culturais.

Veja programação e outras informações: http://www.cult.ufba.br/

2008: Política e Cultura na Bahia

Estamos vivendo um ano singular, tanto para a política quanto para a cultura, na Bahia. As eleições municipais, primeira sem a liderança de Antônio Carlos Magalhães (ACM), devem configurar um novo mapa político no Estado. No campo da cultura, este ano pode funcionar como sendo o marco inicial da efetivação das políticas públicas para o setor.

A expectativa é que, agora em 2008, a Secult - Secretaria Estadual de Cultura - comece a efetivar as propostas elaboradas durante a II Conferência Estadual de Cultura. Culminância de um rico processo, no qual participaram 390 - (92%) - dos 417 municípios do Estado, a II Conferência de Cultura da Bahia “assanhou o interior”.

Criou-se uma grande expectativa entre os grupos e agentes culturais interioranos. Tendo como reflexo, a esperança de que desta vez eles teriam mais incentivo e poderiam ter maior acesso aos mecanismos da Política Cultural do Estado.

Hoje, apenas sete meses após à II Conferência, já há no interior quem identifique algum inicio de frustração. Tal descontentamento não se dá pelas políticas até aqui realizadas, a exemplo das cotas previstas na Lei Estadual de Incentivo à Cultura e dos Editais, como o do Ponto de Cultura, entre outros. A desconfiança reside na forma de como está sendo feita a articulação entre os órgãos estaduais de cultura e os municípios do interior.

O Estado não possui estrutura técnica para a área da cultura em todos os 26 Territórios de Identidade. Daí, o método usado para chegar ao interior, além do telefone e da internet, tem sido a relação institucionalizada com as Prefeituras Municipais. Parceria que funcionária a contento, caso a realidade político-administrativa do interior da Bahia fosse outra.

O cenário interiorano

Vale ressaltar o caráter heterogêneo dos municípios. Muitas cidades nunca tiveram um órgão responsável pelas políticas públicas de cultura. Outras, mesmo tendo essa estrutura, não estão devidamente preparadas para a interlocução pretendida.

Outra dificuldade pode ser encontrada na cena política do interior. Ao que parece, quanto menor a cidade, maiores são os ressentimentos e a rivalidade entre grupos políticos locais. Nesta experiência de um ano e meio da nova Secretaria de Cultura, as disputas políticas do interior ficaram evidentes, através de algumas situações inusitadas.

Existem Prefeituras tentando fazer de qualquer iniciativa da Secretaria, um verdadeiro palanque eleitoral da gestão municipal vigente. Assim, um simples workshop (anglicismo inimaginável na Secretaria de Ariano Suassuna em Pernambuco, mas amplamente usado na Bahia) da Fundação Cultural transforma-se em um evento pomposo. Mesas, falas, discursos de autoridades locais e muita pirotecnia na mídia do município.

Há também exemplos de gestões municipais primando pelo favorecimento de informações ao seu grupo político. De tal modo, os produtores, artistas e agentes culturais, não alinhados com o pensamento político hegemônico local, ficam à parte das informações oriundas da Secult.

E, além destes, podemos contar os omissos por opção. Pessoas sempre indispostas a participarem de atividades, nas quais o poder público local, ligado a determinado grupo político, apareça como realizador.

Situações que para os gestores culturais, ambientados com a cena soteropolitana, pode parecer argumento para roteiro de filme, ainda é a realidade, nua e crua, no interior da Bahia.

Esta é a cultura política no interior. Infelizmente, a virada das eleições de 2006, por mais que possa sinalizar o inicio de uma mudança de pensamento, não significa o óbito do coronelismo ou do cabresto eleitoral no Estado.

Neste cenário, a quantidade de prefeitos, suas políticas de aliança e o grupo político do qual eles fazem parte, ao contrário do que deixa transparecer o governador Jaques Wagner em entrevista para a Caros Amigos, no mês de dezembro passado, pode contar, e muito.

De tal maneira, as eleições municipais de 2008 representa também um marco decisório nos rumos da nova Política Cultural do Estado. A existência de Prefeitos sintonizados com o pensamento da Secult, certamente facilitaria o trabalho deste órgão de cultura.

Infelizmente, o crescimento no numero de alinhados com a nova Política Cultural, ao que parece, não será a hipótese mais provável para a maioria dos municípios.

Conforme pode ser percebido no interior, o PMDB “aliado” (aspar devido as possíveis reviravoltas políticas) tem um crescimento muito superior ao PT. Vale salientar que este aumento de filiados, no partido do Ministro da Integração Nacional, é proporcionado, em grande medida, pela adesão de ex-carlistas e tradicionais líderes da política interiorana.

Sendo assim, os potenciais vencedores das eleições municipais, ainda que estejam na base aliada, são os mesmo que há muito mandam e desmandam no interior, só que agora, usando uma nova legenda. O velho ditado: “muda para ficar tudo como está”.

O quadro evidencia o quanto é perigoso o caminho adotado pela Secult no privilégio às Prefeituras. Claro que, de modo algum, na contramão deste percurso, não se defende e nem se poderia esperar da Secretaria Estadual de Cultura uma política de aparelhamento, na qual, teriam vantagens os partidários de sua visão de Política Cultural. O esperado é a criação, por parte da Secult, de uma estrutura mínima de funcionamento no interior.

Somente a ação e/ou acompanhamento do próprio estado nas suas iniciativas direcionadas ao interior, poderá dirimir as disfunções apontadas na parceria com as Prefeituras.

É preciso entender que, no interior, as relações são mais eficazes quando se dão no cara a cara, ou como se diz no popular, no téte-a-téte. Telefonar e mandar e-mails, explicando procedimentos, não funciona de modo eficaz.

Sem o acompanhamento necessário o trabalho não funciona a contento. E os movimentos culturais do interior continuarão sentindo-se distantes e desinformados. Principalmente depois de ligações frustradas e respostas do tipo: “tá tudo no site”.

A Mobilização

Neste sentido, vale, e muito, como exemplo, o trabalho dos Mobilizadores Culturais. Eles foram os trinta militantes da cultura, contratos pelo Estado por três meses, através de um processo de seleção pública, para visitar os municípios, buscar parcerias e dirigir os Encontros Municipais de Cultura. Através deste trabalho, foi atingida a marca de 390 municípios representados na II Conferência, em outubro de 2007 em Feira de Santana.

Para a realização dos Encontros Municipais, os Mobilizadores buscaram a parceria das Prefeituras, conforme orientação do Estado, mas também procuraram os movimentos sociais dos Municípios. De tal modo, foram visitadas escolas, sindicatos, associações, grupos e entidades, voltados para segmento cultural.

A intenção dos Mobilizadores era oferecer a maior pluralidade possível aos encontros. Não seria interessante, de modo algum, que as Prefeituras tivessem total controle sobre os Encontros e ficassem com a total representação do município na II Conferência, menosprezando representantes da sociedade civil, que por ventura fosse alguém identificado com a oposição local.

O trabalho dos Mobilizadores foi altamente reconhecido pela sociedade civil. Conforme citações dos presentes à II Conferência e em manifestação documental nas propostas dos Encontros Territoriais
[1]: “garantir presença constante do Mobilizador Cultural da Secretaria de Cultura no Território”.

Hoje, após o fim do processo da II Conferência Estadual e da extinção da função dos Mobilizadores Culturais já aparecem reclamações. Fortemente identificados pelo trabalho feito, os Mobilizadores quando não questionados por informações acerca das ações da Secult, são indagados pela sua ausência do município.

Até mesmo, a própria Secult demonstra ainda identificar nos Mobilizadores, como seus potenciais parceiros. A eles são dirigidos e-mails e ou telefonemas no sentido de compartilharem e difundir em seu Território de Origem informações das atividades em andamento.

Os Mobilizadores, contudo, por maior boa vontade que tenham, não possuem estrutura de estarem a todo o momento articulando a difusão das ações da Secretaria de Cultura no interior. Para tal, é necessário, no mínimo, telefone, internet, disponibilidade de tempo e recursos para viagens.

Diante desta impossibilidade e do cenário descrito acima, é urgente uma ação da Secretaria Estadual de Cultura, no sentido de concretizar a criação de uma mínima estrutura própria em cada Território de Identidade.

Tal equipamento seria uma espécie de mine-escritório, funcionando como uma representação territorial da Secult. Este pequeno órgão poderia estar composto de dois funcionários, cada um com funções distintas.

Os servidores da representação Territorial seriam então: 1) Um articulador territorial, para responder pelo órgão, gerenciar os trabalhos, manter contato com a Secult e até ministrar palestras e mine-cursos nas cidades do Território, se for o caso, entre outras funções; 2) Um Mobilizador, o qual seria o responsável pelas visitas e acompanhamento dos trabalhos nas cidades e interlocução com os gestores e a sociedade civil dos municípios.

Tal articulação poderia ser ainda mais reforçada, caso seja integrado ao staff (para também usar um anglicismo) da Secult e da Funceb, um membro com conhecimento e experiência para com a cena cultural do interior. Assim, seria melhor ainda a interlocução com as representações territoriais e alguns equívocos poderiam ser evitados.

Além das dificuldades de ordem burocráticas, as carências orçamentárias (constantes no segmento cultural), podem ser apontadas como entrave à criação da estrutura proposta. No entanto, tal composição, nem seria tão dispendiosa, como pode parecer á primeira vista. Isto pelo fato de o Estado já possuir ao menos Centro de Cultura em alguns Territórios de Identidades.

Ou ainda, na impossibilidade de uma total implementação desse pequeno órgão próprio, pode ser pesada a parceria com outras estruturas, do próprio Estado, já presentes nos Territórios. Como por exemplo, as DIREC (Diretoria Regional de Educação e Cultura) e os Comitês de Desenvolvimento.

Prioridade

O contexto do interior e a necessidade de uma estrutura como a proposta acima, não são ignoradas pelas Secult. A própria Secretaria reconhece como uma das dificuldades para a implementação das políticas territoriais a “ausência de uma institucionalidade voltada para a articulação dos atores locais”
[2].

Da mesma forma, propostas no sentido de uma melhor articulação nos Território e destes para com a Secretária apareceram na II Conferência Estadual. E até mesmo nos Encontros Territoriais, quando foi feito um monumental esforço pela Superintendência de Cultura, para visitar em tempo recorde, todos os 26 Territórios de Identidade do Estado.

Se o reconhecimento da necessidade já existe, o que falta então é entendê-la como prioridade urgentíssima. Pois, no contexto político e cultural do interior do Estado, a falta de um acompanhamento in loco por parte da Secult pode prejudicar toda a ação cultural pretendida pela Secretaria no que diz respeito ao interior.

É preciso buscar maneiras mais eficiente de chegar ao interior. Há necessidade de pensar meios de vencer a burocracia. E se o orçamento é apertado (e realmente é), já estar mais do que na hora de iniciar uma grande campanha pelo aumento do mesmo, como fez o Ministro Gilberto Gil, no inicio de sua gestão.

O ano de 2007, sendo o primeiro da Secult e o ano da II Conferência, foi o tempo do reconhecimento. Neste ano de 2008, é preciso mostrar para a Bahia inteira que, de fato, as propostas e políticas, começam a serem implementadas. Ano que vem, 2009, é momento de reafirmá-las.

Assim, espera-se que o louvável trabalho realizado pela Secretaria Estadual de Cultura até aqui seja solidificado no interior e que os ventos de 2010 não possam causar grandes reviravoltas. Afinal,
“2010 é 2010”, como já afirmou o “companheiro” Geddel.


[1] BAHIA – SECRETARIA DE CULTURA. Caderno de cultura 2 Jan/Fev 08. Cultura é o quê? Resultados da II Conferência Estadual de Cultura. Bahia, 2008. pag. 84.
[2] BAHIA – SECRETARIA DE CULTURA. A cultura como dimensão estruturante das políticas públicas: Programa de desenvolvimento territorial da cultura. Salvador: Maio, 2007. pag. 01.

21.5.08

É muito Zé na família Irará

“ o meu nome é Severino
Não tenho outro de pia.
Como há muitos Severinos,
Que é santo de romaria,
Deram então de me chamar
Severino de Maria;
Como há muitos Severinos
com mães chamadas Marias,
fiquei sendo o da Maria
do finado Zacarias.
Mas isso ainda diz pouco:
há muitos na freguesia;”
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Coisas de nordestino. E no Irará, não podia ser diferente. Se tem tanta gente com o um nome só, é preciso procurar características para diferenciá-los, ou melhor, identificá-los.
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No caso pernambucano, apresentado por João Cabral, sobram Severinos. No Irará, pelo pouco que percebi, há um grande contingente de José(s).
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Joões, Marias, ou outros nomes, podem também existir ao montes em solo iraraense, mas, por hora, e agora, José - com seu simpático, curto e breve apelido “Zé” - será o nome sobre o qual vamos apontar algumas incidências em solo iraraense.
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Na Família
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Vou começar de casa. Porque na minha família o que não falta é José. Meu avô paterno era José Emanuel, mas conhecido como Zé do Sitio, devido à localidade rural de sua origem. E seu filho mais velho, meu pai, recebeu o nome de José Antônio.
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Ao logo dos seus breves 59 anos de vida, meu pai foi convivendo com várias derivações de seu apelido - Zé. A primeira foi um diminutivo do nome de seu pai. Filho de Zé, Zezinho ou Zezito é. Como brasileiro gosta de reduzir nomes e até mesmo apelidos, de zezito, virou Zito. Assim meu pai era conhecido na Boa Vista, onde nasceu.
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Depois ele veio pra sede do município e ficou mais conhecido como Zé. Entrou para a religião Testemunha de Jeová e virou Zé Crente. Começou a desenvolver a profissão de Rádio Técnico – se tornou então, o Zé do Rádio. Na sua profissão fez um monte de colegas em Feira de Santana. Eles o chamavam de Zé de Irará.
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E a minha relação familiar com os “Zés” vai bem além de nomes e apelidos de meu avô paterno e de meu pai. Meu outro avô, materno, também era José.
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Zé de Souza ou Zé Custódio, a depender de qual sobrenome dele era incorporado ao apelido. Este Zé, pai de minha mãe, teve nove filhos. E, claro, um deles tinha de chamar... José.
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José Martins de Souza, meu tio materno, é um cidadão de alta estatura numa família de maioria baixa. Daí, pra seu apelido ser “Zé Grande”, foi um pulo.
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Como se já tivesse pouco José na família, minha tinha Ninha ainda casou-se, com um moço de nome Zé Lino. Eles também tiveram nove filhos e, lógico, um deles tinha de ser chamado de José. Esse meu primo, não sei porque, fugindo à regra, foi apelidado como Elí.
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Com José de Avô, duas vezes; de pai; e de tio, não sei como não fui batizado de José. Mas, muita gente acha que assim sou, pois, costumam me chamar de “Zé Roberto”. Mal sabem eles que há um “Marcos” onde pensam que seria o “José”.
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Por outro lado. Não ser batizado como José, aliviou um pouco a barra. Talvez seria José demais para uma família só. E se na minha família de sangue, os “Josés” ficam por aí, na família Irará, ainda há muitos outros, “Josés”. Diferenciados por profissões, sobrenomes, nomes de pais, ou qualquer outro motivo.
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No Irará
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(...)

“Vejamos: é o Severino
De Maria do Zacarias
Lá da Serra da Costela,
Limite da Paraíba.
Mas isso ainda diz pouco:
Se ao menos mais ainda havia
Como nome de Severino
Filhos de tantas Marias
Mulheres de outros tantos
Já finados, Zacarias,
Vivendo na mesma serra
Magra e ossuda em que eu vivia”
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No Irará, se é domingo e você pensa em comer galinha com macarrão, pode acordar mais cedo e comprar um frango abatido no abatedouro de Zé Lima. Caso tenha maior aproximação com o dono do estabelecimento, pode chamá-lo de Zé de Fiíto (apelido do pai do rapaz). Ou ainda, quem sabe, com uma intimidade maior, Zé da Bala.
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Caso o prato predileto seja carneiro, pode ir ao mercado de carnes no sábado e procurar o pai de meu amigo e chará de apelido, Ró, o Zé do Carneiro. Se quiser rolar uma balinha de sobremesa, compra na bomboniere de Zé do Doce.
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Se a casa tem energia elétrica, não precisa de Zé Gás pra iluminar, mas pra cozinhar precisa de botijão, aí era só falar com Zé da Brasilgás. Este não mora mais em Irará. Ouvi notícias de que estava em solo europeu. Olha só onde foi parar aquele menino que o povo chamava de Zé de Toinho!
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Lá onde ele tá, deve fazer frio e chover pra caramba. Pior é que se a bica furar, nem dá pra “bater um fio” e chamar Zé Funileiro, daqui até a chegada...
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É, parece que em Irará, bastou ser José e ter um comércio ou profissão, para logo ser apelidado de Zé, tendo o produto/serviço do seu ramo de atividade como sobrenome ao apelido.
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Já outros, recebem como acompanhamento ao apelido Zé, mais um apelido. Só para citar alguns: Zé do Dodge, Zé Mamão, Zé Popó, Zé do Lebre, Zé Buscapé, Zelito, Zé Palito, Zé Bicudo.
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Olhe que tamanho, cor da pele, traço característico do corpo, etc, também é documento e serve para identificar Zé por aqui. Zé Pequeno, Zé Branco, Zé Preto, Zé Bigode, Zé Cego, Zé Miolo, entre outros, que o diga.
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Parece coisa de novela? Pois é. O cidadão que montava sala de cinema no Irará, originário da comunidade do Rato, era José Martins. Apelido? Zé do Rato.
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E nosso amigo Calisto, paulista de nascença que nem José é, pois se chama Fábio, por aqui foi logo batizado como Zé Colméia. Disse que é porque ele lembra certo personagem de desenho animado e suas espertezas. Será?
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Nome de pai ou de mãe também serve para diferenciar José no Irará. Zé de Cândido, Zé de Odílo, Zé de Juju, Zé de Aristides. Esse último é o artesão Zé Nogueira, que, nascido numa data eleitoral, já foi chamado de Zé Eleição.
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Vez por outra, confundem o Zé Nogueira artesão, com o Zé Nogueira advogado. Além das profissões, o Cardoso no primeiro e o Nunes, no segundo, também os diferenciam.
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Se for abrir a lista para distinção por sobrenomes, Irará conhece ou conheceu, mais outro monte de Josés. Zé Mendes, Zé Américo, Zé Leão, Zé Nilton, Zé Estrela, Zé Reis, Zé Aldo, Zé Hertz, Zé Aristeu, Zé Raimundo. Este com sua “ginga” é também filho de Sr. Aristides, portanto irmão do Zé Artesão.
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Como dá pra perceber, por aqui o apreço de famílias pelo nome “José” é forte. Às vezes dá até casamento. Posso mencionar um casal de amigos e vizinhos e pais de amigos meus. O comerciante Mário José Marinho e a professora Maria José Marinho. Tem também, já ouvi falar, um casamento formado por Zé Homem e Zé Mulher.
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De tanto falar em Zé até lembrei de meu amigo Zé Falcón, que não mora em Irará, mas também é José e até que gosta de nossa terra.
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Tá achando que é Zé demais né? É, realmente, concordo que há muito Zé na Família Irará. Não obstante, te aviso que da missa, eu não devo ter contado de um terço a metade.
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Com certeza existem muitos outros Josés na terrinha. Não devo ter lembrado do nome de alguns e devem está faltando muitos outros que não conheço.
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Então, cara leitora ou caro leitor, se puder me ajudar eu agradeço. Comente o texto, pode falar mal ou bem, mas não deixe de citar o nome de algum Zé que faltou.
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Quem sabe numa possível segunda edição, o texto não venha um pouco mais completo. E haja Zé!
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Os versos são de:
João Cabral de Melo Neto
Morte e vida Severina,
(auto de Natal Pernambucano / 1954 – 1955)
“o retirante explica ao leitor quem é e a que vai”

5.5.08

Pavão Dourado lança CD em Salvador

Dona Bibi e sua turma do Pavão Dourado


Por Sandro Santana – Divulgação.
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Com muita poesia, lirismo e ritmo, o grupo Pavão Dourado faz o show de lançamento em Salvador do seu primeiro CD, “Minha sabiá, minha zabelê”, que acontece no dia 11 de maio, às 11 horas, no Parque da Cidade (Itaigara).
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O CD é uma reunião de cantigas e brincadeiras de roda que, como outras cirandas, abordam temas sobre o universo feminino, quase sempre em torno de amores pueris e não-correspondidos. Tudo isso emoldurado pelo bucolismo musical e percussivo, típico das caatingas do sertão baiano.
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Formado essencialmente por mulheres da comunidade de Boa Vista II, em Serrinha, há no grupo uma proposta rara entre as outras manifestações do mesmo gênero: reunir a tradição das brincadeiras de roda, transmitidas através da oralidade ancestral, com ritmos que integram a aquarela sonora brasileira, principalmente as marchinhas-de-rancho e as toadas de aboios nordestinos.
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Dona Bibi , nome pelo qual é conhecida a lavradora Maria José do Nascimento dos Santos, com seus 52 anos, é quem lidera o grupo. Segundo ela conta, as brincadeiras de roda que aprendeu sempre aconteciam (e acontecem) depois das batas (debulhamento das colheitas) de milho ou feijão ou em outras atividades domésticas, como, por exemplo, quando estão trançando palha de pindoba para fazer chapéus, esteiras ou sacolas.
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Paticipações –
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O grupo paulista A Barca A Barca, viajou mais de 10 mil quilômetros, entre os meses de dezembro de 2004 e fevereiro de 2005, por nove estados brasileiros, do Pará a São Paulo. Nessa turnê, cerca de 30 comunidades ou cidades foram visitadas, com o objetivo de pesquisar e transcriar gêneros mais tradicionais da música popular brasileira.
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Os grupos Pavão Dourado e Comunidade Lagoa da Camisa foram os escolhidos no estado pelo projeto A Barca. Além de oficinas e apresentações dos grupos nas comunidades, foram registradas no CD Trilha, Toada e Trupé três músicas do grupo Pavão Dourado.
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Na Bahia, o Pavão Dourado já se apresentou em várias cidades do semi-árido em ocasiões, como os shows realizados nas quatro edições da Festa da Cultura Popular (2004, em Barrocas, 2005, em Santa Bárbara , 2006 em Conceição de Coité, e 2007, em Tanquinho).
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Em 2006 o Pavão Dourado foi selecionado para o Mercado Cultural, em Salvador. Este ano o projeto “Adeus Pavão Dourado” foi aprovado pelo Fundo de Cultura do Estado da Bahia, que liberou recursos para a prensagem do primeiro CD do grupo e para o show de lançamento no dia 11 de maio de 2008, no Parque da Cidade, em Salvador.
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Ficha Técnica
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Voz solo:

Maria José do Nascimento dos Santos (Dona Bibi)
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Vozes:

Ana Pereira de Jesus
Bárbara de Araújo
Leinalva do Nascimento dos Santos
Luciana do Nascimento dos Santos
Lucivânia do Nascimento dos Santos
Gertrudes de Lima Silva (Tuninha)
Maria Lídia Pereira do Rosário
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Violão:

Antonio Carvalho de Queiroz
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Músicos convidados:
Percussão:

Frankinando Francisco de Matos
Luiz Silva Santos
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Contatos:


Sandro Santana

Tel.: (71) 8805-3187
sandro_santana@hotmail.com

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Imagem:

Bere Ramos tomada de "emprestimo" no blog Das Ruas do Terra Magazine

Ainda Bolívia...

A disputa entre oposição e situação na Bolívia segue seu rumo. Apesar dos protestos, dos favoráveis ao governo Evo Morales e contrários ao referendo, o plebiscito tem seqüência.
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Os organizadores fazem ouvidos moucos para as autoridades internacionais que dizem não reconhecer a autonomia do Departamento (Estado) de Santa Cruz, mesmo com resultado favorável à autonomia.

Acompanhe:

2.5.08

Olhares à Bolívia


Centro de Cochabamba na Bolívia - forte traço índio na população

Domingo, dia 04, a Província (Estado) de Santa Cruz na Bolívia vai às urnas. Em votação por maior autonomia diante de La Paz, capital política da Republica Boliviana. No horizonte se desenha uma disputa ou divisão étnica.
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A Bolívia contrasta entre descendentes do povo indígena e os descendentes dos invasores (ou colonizadores de acordo á visão de cada um) espanhóis. Esta divisão ficou ainda mais acirrada, desde a chegada, pela primeira vez na história, de um índio ao poder.
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O governo do Presidente Evo Morales não tem alcançado bons índices econômicos. Sediada em Santa Cruz de La Sierra, capital da província que reivindica maior autonomia, a elite empresarial da Bolívia acusa Evo de “índio incompetente”.
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O mandatário, por sua vez, aponta a discriminação dos empresários com a sua condição índia. Salienta que a elite econômica do país não aceita a revolução em favor dos mais desfavorecidos e questiona o fato de que “eles”, só vêem falar em autonomia agora, após perderem o poder político da nação. Também percebe financiamento estadunidense nas ações dos seus opositores.
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A situação da Bolívia merece atenção e não é diferente da vivida por várias outras nações. Ao que se percebe, ali se trava, de forma feroz e intensa, a disputa humana pela sobrevivência no mundo moderno.
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Povos oprimidos lutam pelo direito de existência. O grande capital também. Ainda que o instinto deste último seja o de sobreviver destruindo etnias e culturas.
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Alheamento e exceções
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A imprensa brasileira segue alheia a tudo isso. Finge não perceber a miséria boliviana, suas reais causas e a contribuição da força do capital internacional para a perpetuação deste quadro. Tanto lá, quanto cá.
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Afinal, por esses dias temos sangue (caso Isabela) e sexo (Ronaldo). Para os barões da comunicação, junto a seu público sedento por futricas e espetacularizações, não precisa de mais nada.
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Vantagens múltiplas. Os magnatas ficam cada vez mais ricos e as pessoas ganham informações para alimentar seus assuntos na mesa do bar.
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Pode até ser que os acontecimentos da Bolívia ganhem algum espaço na grande mídia tupiniquim. Entretanto, não esperem nada fora do caricatural, sem tempo para qualquer tipo de aprofundamento da questão.
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No noticiário brasileiro já é costume perceber o Presidente boliviano relegado à imagem de um “maluco”, amigo de outro “doido”, ou seja, o venezuelano Hugo Chavez.
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A exceção fica por conta de algumas publicações mais sérias e a internet. Neste caso, cito aqui dois exemplos.
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Carta Capital e Projeto Bolívia
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O primeiro é a Revista Carta Capital. Enquanto outras semanais se ocupavam da telenovelinha da vida real, do “reality show”, construído em cima da tragédia familiar que vitimou a menina Isabella, a Carta no dia 09 de abril, trouxe a relação entre Evo Morales e as “duas Bolívias” como tema de capa.
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A reportagem esclarecedora e bem construída sintetizava a situação vivida pelo país. Mostrando os contrastes bolivianos, a reportagem apontava alguns erros e políticas sociais de Morales.
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Já na internet, esse fantástico veículo que tem sido um refúgio para o pensamento livre (até quando?), vale destacar o blog do Projeto Bolívia. Uma iniciativa de alguns jornalista e estudantes de comunicação.
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O diário virtual é uma espécie da cobertura da viagem que os colegas faconianos, Lucas Santana, Mateus Damasceno, Ricardo Sangiovani, Vitor Rocha e mais, a amiga deles, Tassia Novaes, fizeram à Bolívia em meados do ano passado.
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Os textos, fotos e até um vídeo, disponíveis no Blog, nos mostram um belo país e seus contrastes. Da leitura dos escritos dá para perceber que a galera ralou bastante em solo boliviano. Enfrentaram estradas perigosas, visitaram minas e plantações de coca e conseguiram até uma entrevista com o presidente da nação.
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Observando o blog, e é gratificante ler todo o conteúdo lá postado, podemos perceber a vivência e opiniões de um povo que se apresenta politizado e tem simpatia pelo Brasil. A rapaziada chegou a ser anunciada em estádio de futebol como uma “equipe da Globo”, presente no país.
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Ainda bem que existe as publicações que excedem a regra e a internet. Assim podemos conhecer um pouco mais da realidade. No caso especifico do blog, é muito prazeroso lê-lo. Afinal, ninguém contou ao pessoal o que está lá escrito. Eles estiveram em solo boliviano, viram com os próprios olhos.


visite o blog do projeto Bolívia: http://www.projeto-bolivia.blogspot.com/


foto de Tássia Novaes - Tomada de "empréstimo" no Blog do Projeto Bolívia.