7.8.11

Nem só de pão viverá a humanidade

Imagine uma criança sendo alimentada somente com guloseimas consideradas as mais gostosas por ela. No seu cardápio diário, nada de feijão, arroz, saladas ou qualquer tipo de legume. O almoço, a janta e o café da manha de todos os dias seriam resumidos a doces, pizzas, salgados e refrigerantes.

É fácil imaginar que este ser humano em questão não viveria por muito tempo. E, certamente, na possibilidade de chegar à idade adulta, o mesmo não teria uma vida saudável. Diabetes, obesidade mórbida, problemas cardíacos, entre tantos outros malefícios, poderiam surgir. O corpo, carente de nutrientes, possivelmente não suportaria por muito tempo.

Esta consciência com o funcionamento do corpo parece que a sociedade já tem. Daí, a clarividência do caso relatado acima ser mais possível de acontecer somente na imaginação. As famílias, as escolas, e os governos não concordariam em permitir que uma pessoa só se alimentasse o tempo todo de besteiras.

O ser humano, entretanto, não é constituído só de corpo. Somos corpo e alma. E é na alma do humano (independente da crença de termos ou não um espírito que se desprende do nosso corpo quando morremos) é que está a nossa capacidade de pensar, de sonhar, de simbolizar, de se relacionar com o outro e com o mundo a nossa volta.

Por isso, se já é notória a necessidade de alimento de qualidade para o corpo, a mesma compreensão devemos ter para com a alma. E a alimentação da alma é a cultura.

Talvez, muitos ainda não pararam para observar o motivo de tantas doenças da alma e mazelas sociais sofridas atualmente. Elas certamente são causadas pela desnutrição cultural da sociedade. Depressões, stress, entre outros, são quase sempre conseqüências de desencanto ou perspectivas de vidas frustradas. Já as faltas de compreensão e de respeito ao próximo, proporcionam os crimes mais diversos e hediondos.

No bojo da indústria cultural, as emissoras de rádio e TV incentivam o consumo rápido e fácil. Tal e qual o doce das crianças, eles oferecem à população produtos “gostosos”, de perfil tentador. Divertir o público com produtos culturais nada “nutritivos”, assim como os doces e refrigerantes, garante o jabá pago pelos empresários. A missão social dos veículos é “esquecida”. Os empresários, por sua vez, “agradecem” as emissoras pela massificação do seu produto que, de tanto ser veiculado, acaba caindo no gosto de quase todos.

Muitos dos governantes, sobretudo nas cidades do interior, vão pelo mesmo caminho do mercado. Dizem seguir a lei da oferta e da procura. Sob o argumento de agradar uma suposta maioria, e talvez pensando em votos, investem em cachês altos para grupos de qualidade duvidosa. Quase sempre são aqueles que expõem mulheres como mercadorias ou pregam o hedonismo exacerbado. Ainda que aquilo signifique a humilhação do próximo.

Tais práticas seguem no sentido contrário ao necessário incentivo para o saudável desenvolvimento social de qualquer povo.

É preciso que seja ampliado o “cardápio cultural” das pessoas. Boa música, bons filmes, livros, peças teatrais, apresentações de manifestações culturais diversas, e um calendário cultural “recheado” de eventos de qualidade, entre tantas outras opções, só iriam fazer bem. Seriam alargados conceitos e compreensões, fortalecendo o rico “caldeirão cultural”, no qual todos nós estamos imersos, mas nem sempre nos damos conta.

Quando isto acontecer, talvez nem sejam mais necessárias leis que visem proibir verbas públicas para pagar cachê de bandas com músicas maliciosas. A própria audiência se encarregaria de censurá-las.
Enquanto não acontece, projetos de lei como o da Deputada Estadual, Luiza Maia (PT - Ba), merecem discussão e crédito.

A sociedade que se preocupa tanto com a saúde do corpo deve também se preocupar com a saúde da mente. A alimentação mental é importante e merece atenção. E nesse sentido, vamos continuar alertando as nossas “criancinhas” de que nem tudo que se acha gostoso é saudável. E em excesso ou com uso único, pode fazer mal. Vale lembrar, que a palavra escrita já disse há milhares de anos atrás: “nem só de pão viverá o homem”.

2 comentários:

Juracy Paixão disse...

Caro Ró de Zédo Rádio,

Como eu já havia dito,você é uma das moedas especiais escondidas no Cofre de Irará.

Parabéns pelo magnífico texto.

Um abraço,

Juracy

Daniela Lima disse...

"É preciso que seja ampliado o “cardápio cultural” das pessoas. Boa música, bons filmes, livros, peças teatrais, apresentações de manifestações culturais diversas, e um calendário cultural “recheado” de eventos de qualidade(...)"

É preciso também um bom incentivo principalmente nas escolas, hoje vejo bibliotecas vazias e "estudantes" que dizem "odiar leitura", preferem ouvir músicas maliciosas do que aquelas que têm boas letras. A Bahia é muito rica em cultura, temos ótimos exemplos de escritores, mas para onde está indo a consciência da população?!
Na escola em que estudo os alunos dizem gostar de leitura e não pegam um livro na biblioteca por não ter um professor que indique bons exemplos. É necessário reavaliar o modo como os professores estão trabalhando Literatura em sala de aula.

Abraços, gostei muito de seu texto.

Daniela