12.3.12

“A CHAMA DA ATENÇÃO”


Texto de Emerson Nogueira - Mersinho 

A madrugada do dia 29 de fevereiro de 2012 foi terrível, algo queimava meu juízo ao ponto de não deixar-me dormir.  Insônia, desconforto, preocupação, não sei bem, mas a cena vista dias atrás buliu a consciência. 

Numa manhã de domingo viajei e no trajeto uma “visagem” chamou-me atenção. Embora estivesse a quilômetros da ocorrência, pude observar que não era uma simples queimada. A fumaça misturava-se às nuvens deixando uma cicatriz no horizonte, rapidamente pensei nas arvores e animais perdendo a vida. 

"A fumaça misturava-se às nuvens 
deixando uma cicatriz no horizonte"

Não sou ativista, mais se tem uma coisa que me deixa chateado é agressão a natureza. Após uma parada desci e tentei registrar aquele episodio, mas o “calibre” não alcançava tal destruição. Tirei algumas fotos porem só uma ficou razoável, parecia que a câmera se recusou a dar qualidade à infeliz imagem. 

Talvez tenha sido um acidente, alguém colocou fogo com um objetivo e ele se propagou “o vento levou”, mas a realidade é quase cotidiana e vista quase sempre em áreas rurais. Tentei compreender um pouco a motivação deste tipo de ação. Conversei com alguns experientes amigos da roça onde me disseram que a prática é antiga e na maioria das vezes a criação de gado é um dos principais fatores. 

Embora o tema seja diariamente discutido em todo planeta parece que os nossos ouvidos precisam de atendimento otorrino, “uma lavagem”. Dentro desse contexto nos acostumamos vê as coisas de fora. Irará não foge a realidade e assim como em toda parte do nosso imenso Brasil vem sofrendo com a destruição do seu Patrimônio Natural. O crescimento deveria moldar-se na sustentabilidade, no entanto mudar essa cultura secular não é tão simples. 

Associei alguns momentos de vivencia e alguns fatos que nos coloca a todo instante nesta temática. Lembrei das historias relatadas por meu avô Januário quando me contava aspectos geográficos da região principalmente da nossa bacia hidrográfica. O Velho me disse que nossos Rios e Riachos ainda não acabaram definitivamente por conta da mão de Deus. O desmatamento das margens é a gota d’água. Jilú sempre me diz: “Meu filho o olho d’água não quer vê o olho do sol”. Outro dia exemplificou dizendo: “Fique meio dia olhando sem parar para o sol pra vê se você agüenta”. São simples frases mas que estão relacionadas aos acontecimentos. 

Jilú: “Meu filho o olho d’água não quer vê o olho do sol”


A preservação das nascentes em toda sua extensão já seria um recomeço. Outros caminhos devem ser estudados, preservar muitas vezes se resume a apenas não interferir. Meu avô tem apenas uma pequena propriedade, mas sempre manteve um pedacinho de Mata, segundo ele é bastante útil não só para os animais que “precisam se esconder”, mas para utilização da mesma. 

Outro dia uma observação me fez refletir. Fui à casa do meu pai e lá reparei algumas gaiolas com pássaros e falei: “porque o senhor não solta esses passarinhos?”. A resposta foi imediata: “Não, se soltar vão caçar e matar tudo, eles não deixam nada”. A resposta um tanto contraditória levara-me a crer que no pensamento dele os passarinhos estavam mais bem protegidos presos. Recordei de alguns relatos de que meu pai gostava de mato e era um caçador. Fiquei pensativo, em seguida vi o meu pequeno irmão nos braços da mãe, ali estava o futuro.  

A todo o momento nos deparamos com situações pertinentes ao assunto. É triste ver nas feiras a comercialização de pássaros. A quem goste de criar, é também uma questão de costume, mas deveria ter limites, ninguém gosta de viver atrás de grades. 

Tempos atrás me encantei com a labuta de algumas famílias que vinham de longe comercializar Mangaba na Feira de Irará. Passei a conhecer o modo de vida de algumas que apresentavam características Quilombolas e têm na extração da Mangaba um complemento na renda. Chamou-me a atenção quando me relataram a luta para conseguir a fruta e que a extração estava cada vez mais escassa, pois estavam acabando com as arvores de Mangabeira para dar lugar à plantação de Eucaliptos nas Regiões de Água Fria e Ouriçangas. Assim o velho ditado “vestir um santo e descobrir outro” parece ser o caminho para alguns. 


"a labuta de algumas famílias 
que vinham de longe comercializar Mangaba 
na Feira de Irará"

De toda sorte é certo que a Mãe Natureza necessita ter mais filhos e para isso temos que fazer a nossa parte. É preciso participar mais, o dialogo talvez seja a melhor escolha. As próximas gerações devem ser preparadas, a Família e a Escola terão papel fundamental nas mudanças neste mundo de regeneração.

Mercinho, 09/03/2012

GALERIA

NATUREZA DE IRARÁ - IMAGENS DE EMERSON NOGUEIRA - MERSINHO:  








2 comentários:

Sél disse...

A sequência de fotos revivou minha saudade dos tempos que morei em Irará.

Flores que não conhecia, um beija-flor que se tornou meu "amigo" de todo dia típico da região...até os sapinhos haha

Saudades
Abraços, seu blog é muito bom de ler Roberto

Roberto Martins disse...

Valeu Sél! Muito Obrigado!
Mas, vale salientar, este texto e imagens ai são do do amigo Emerson Nogueira.

Abs!!