23.12.16

DIA - 32 anos

A manhã era cinzenta
Restos madrugada sombria
Na aurora das diretas
Espera sol do novo dia. 
Indireta, sem posse... 

Na hora do lanche
O quase todo contente
Aperitivo pra participar  
Pelo voto seria diferente. 
Arroto, sabor frustração... 

Vem o almoço
Com sol forte na testa 
Estável expectativa de fartura
E milhões de fora da festa.
Decisão, vamos a outro lado... 

É necessário compartilhar
Experimenta essa merenda
Apesar dos recheios de antes
Um pouco de igualdade e renda.
Indigestão, algo não cheira bem... 

A barriga não tá cheia
Prepara, incerto jantar 
Com ódio é ruim digerir
Até dificulta o pensar.
Anoitece. Receio das trevas... 

15.12.16

Tom Zé e Tropicália em debate na Politécnica


Mesa coordenada pelo professor Nelson Pretto - Faced-UFBa

Depois do bate-papo, na quinta (08), no Palácio das Artes, e do show, na sexta (09), na Concha Acústica do TCA (Teatro Castro Alves), Tom Zé continuou em pauta na cidade da Bahia (Salvador).

O evento “80 anos de Tom Zé e 50 anos da Tropicália” aconteceu no auditório da Escola Politécnica da UFBA (Universidade Federal da Bahia), na noite desta segunda (12).

A atividade integrou a disciplina “Polêmicas Contemporâneas”, da Faculdade de Educação da UFBa), coordenada pelo professor Nelson Pretto.

Quando cheguei, falava Tuzé de Abreu, professor da EMUS (Escola de Música) UFBa. Perdi a fala do pesquisador Fernando Cerqueira. Tuzé contava como acompanhava a tropicália de Salvador, enquanto os tropicalistas estavam em São Paulo, revelando ter visto os festivais pela TV.

Interior - O poeta e compositor tropicalista José Carlos Capinan falou sobre a cena cultural da época. Ele, nascido em Entre Rios, destacou o fato de Salvador ter recebido muitas contribuições dos jovens oriundos de diversas regiões do interior do Estado.

Capinam rememorou a sua entrada no CPC (Centro Popular de Cultura), ligado ao Partido Comunista, onde conheceu muitos dos tropicalistas, e onde fez parceria com Tom Zé.  

O professor Armando Almeida discorreu sobre a tropicália. Destacou o fato do Brasil, naquela época, viver o final de uma transição de rural para urbano. “O tropicalismo encarou de frente a indústria cultural”, disse.

Ele também comentou sobre artigos da época. Entre eles um de Caetano, no qual o santamarense abordou “a linha evolutiva da música popular brasileira”, e outro de Rogério Duarte, quando o designer defendia a necessidade da arte dialogar com o útil e o belo.  

Tom Zé - Marle Macedo, cantora, arte educadora e conterrânea de Tom Zé, falou sobre a sua convivência com Tom na juventude. Relatou como Tom Zé e outros jovens de Irará iam à casa de seu pai, o músico Almiro Oliveira, para apreciar as tocatas lá realizadas.  

No seu relato, Marle comentou sobre os reencontros e saraus daqueles jovens nas épocas dos festejos de Irará quando, então residentes fora para estudar, regressavam à cidade.

Destacou a genialidade, o talento e a sensibilidade estética de Tom Zé, já percebida desde jovem ainda em Irará.  

Fez uma breve cronologia da carreira do artista, do encontro dele com David Byrne e das conversas dela com Tom Zé nesse período. Teceu comentários sobre o conceito do disco “Defeito de Fabricação”, acerca do trabalhador terceiro mundista que ousava ir além de condição de mão de obra barata ao qual tentava lhe impor, apresentando a música “Valsar”.

Widner - Tuzé de Abreu comentou ainda sobre o maestro suíço Ernst Widner, então professor na Emus – UFBa. Lembrou como o suíço falava e escrevia bem o português e se encantava com a cultura da Bahia.

De acordo comentou Marle Mecedo, o maestro chegava a viajar para cidades do interior do Estado só para conhecer sons da natureza e dos movimentos urbanos daqueles ambientes.

O professor Nelson Pretto destacou o papel então Universidade da Bahia, hoje Universidade Federal da Bahia (UFBa) no desenvolvimento cultural do estado. 

Com intervenções da plateia, formada por estudantes, pesquisadores e entusiastas do tema da tropicália, o evento iniciado pouco depois das 19h seguiu até as 22hs.  

9.11.16

Hate is in the air

A torcida dos vitoriosos comemora e a crítica está em suspense.

Diante de tantas incertezas quanto ao futuro, chego a uma constatação: A província contínua sendo província.

Em 2008 vencera uma campanha pautada na esperança.

O candidato tinha origem humilde e os discursos defendiam melhorias a conquistar.

Os vencedores de então diziam que podiam fazer mais, que podiam fazer melhor. Discurso de esperança com grande potencial de resumo em um slogan: “Yes, we can!”.

Após a vitória naquela eleição o gestor apresentou realizações. Fez pela saúde o que não tinha sido feito antes. Fez pelo desenvolvimento. E o seu governo se mostrou mais aberto à inclusão em comparação ao anterior.

No plano externo ele passou a ser respeitado. Galgou espaços em Fóruns de discussões e recebeu credibilidade dos pares.

Em 2012 ele foi reeleito sem grandes sobressaltos.

Na segunda gestão seguiu quase no mesmo compasso da primeira.

Depois de sua eleição (2008), da reeleição (2012), da aprovação do seu governo apresentada nas pesquisas, imaginava-se que fazer sucessor ou sucessora seria uma tranquilidade.

“PERRRRRRRRRRDEU!”

A oposição veio feroz. De cara lisa, sem receio de expor feridas abertas e ressentimentos.

Na força de um candidato midiático, alçado à política pelo encanto das plateias nos seus shows, os opositores fizeram reverberar o discurso único: “Tirar essa gente do poder!”.  

Mas a economia melhorou...

Temos de tirar essa gente do poder, temos de mudar.

Mas a infraestrutura melhorou...  

Temos de tirar essa gente do poder, temos de mudar.

Mas o dialogo melhorou...  

Temos de tirar essa gente do poder, temos de mudar.

Mas...

Temos de tirar essa gente do poder, temos de mudar!

Tempos temerosos.

A “mudança” vem com a volta de grupos políticos de antes.

É como já dito em outro texto:

“A política é assim. Ela tem ares provincianos. Seja numa cidadezinha de interior ou no maior centro de poder do planeta”.

A vitória de Donald Trump nos Estados Unidos da América me fez lembrar do golpe no Brasil; de alguns resultados em eleições municipais; do Brexit no Reino Unido (ou seria desunido?); do referendo a favor do conflito na Colômbia; do tratamento na Europa a quem foge de guerras incentivadas pelos próprios governos europeus; do...

E, ao lembrar de tantas cenas tristes e casos de intolerância, vi o mundo embalado por uma trilha sonora depressiva, cujo refrão, ao inverso do dito em uma canção de sucesso, sintetizaria: “Hate is in the air”.  



14.10.16

Old Kids On The Rock

Eu me lembro. Na época eu já curtia rock há algum tempo, mas tinha maior proximidade com o rock brazuca. Dos monstros estrangeiros eu conhecia a fama e poucas músicas de alguns.

O Guns n’ Roses para mim aparecia como uma das novidades daquele Rock in Rio 91.

Estávamos na oitava série. Haviam colegas que já conheciam o som dos caras. Um deles tinha uma foto da banda como contracapa do caderno. Daquelas típicas, estilo garotos maus, com garrafa de wisk na mão, etc.

Talvez o meu distanciamento para com a banda foi causado pelas meninas. Não que elas me impedissem de ouvir o som. Era só ojeriza, talvez ciúmes, diante da forte tietagem.

Elas tietavam na mesma medida Axl Rose e New Kids on The Block.

Pouco tempo depois fui cedendo e me aproximando do som dos caras. Daí então conheci um hard rock eletrizante e divertido de se ouvir.

Desde “Sweet Child oh Mine”, com os clássicos rifs e solo de Slash, até todas as canção do “Appetite for Destrucion”; “Use Your Ilusion  (I e II)”, e o “Lies”. Cheguei a ouvir tb o “The Spaghetti Incidente”. Tudo em Fita K7, é claro.

O tempo passou e, embora em menor intensidade, sigo curtindo o bom e velho rock and roll.

Boa parte das meninas e dos colegas casaram-se. Eu também. Alguns já tem filhos. Eu ainda não.

O Rock in Rio se firmou como um dos maiores festivais de música do planeta. O Guns, enquanto banda, acabou e recomeçou. Agora, eles estão às vésperas de pisar em solo brasileiro novamente.

E o New Kids On The Block... Bem...

Deles eu não sei. Nem tenho muito interesse em saber. Em geral e, principalmente, quando bate a nostalgia eu prefiro os Old Kids On The Rock.

RM



3.7.16

Versos para #MeuSãoJoãoNaTVE


O pessoal da TVE publicou os versos que enviei para eles com relação ao São João.

Infelizmente, o verso de abertura acabou suprimido na edição e, assim, a primeira estrofe ao invés de septilha virou sextilha...

Mas tudo bem! Valeu a participação, a intenção e o apoio da rapaziada da TVE. E, principalmente, pela valorizada que eles deram à Literatura de Cordel !!! 

Valeu TVE !!! 

Verso original abaixo:

#‎SaoJoao‬ ‪#‎Bahia‬ 

#‎LiteraturadeCordel‬#MeuSaoJoaoNaTVE

Um dia, disse o vidente:
“O cordel vai acabar!”
Sabe nada o inocente
A arte vai se reinventar 
Do papel pro Facebook 
A TVE nos dá um look 
Pro cordel valorizar

Pra não virar personagem 
Modere a dose do licor 
Dance forró, faça viagem 
Nessa ‪#‎BahiaMeuAmor‬
Curta a festa com alegria
Pois o ‪#‎SãoJoãoDaBahia‬
É o melhor Seu Doutor!

Se quiser uma boa dica 
Posse então lhe oferecer
Em Irará a festa é rica 
De tradição e de saber
Tem sanfoneiro no coreto
Milho assado no espeto 
E a turma do Jeguerê...

14.3.16

“Zico” morreu, agora é folclore

As aspas já sinalizam. Não se trata do ídolo do Flamengo. O Zico do qual falo é um “mendigo” (“doido”) de Irará.

Posso dizer que ele era da minha geração. Não sei se um pouco mais novo, não sei se um pouco mais velho. Conheci o Zico quando eu era criança e ele também era.

Nunca soube ao certo do histórico dele, mas sempre ouvi muitas histórias (ou estórias) se contar.

Zico vivia nas ruas da cidade. Certa feita um bancário o adotou. Andou limpinho por alguns dias, depois, não se adaptou e voltou a viver nas ruas. É o que contam. Zico continuou sujo, maltrapilho, pedinte.

Na década de 1980, dizem, ele foi uma das crianças sequestradas em Irará para o tráfico internacional de pessoas. Teria conseguido a fuga e o retorno para sua terra.

Andarilho, Zico conhecia a tudo e a todos do Irará. Chamava as pessoas pelo nome ou apelido, como quem demonstrando intimidade. Aos mais velhos chamava com respeito ou proximidade: “Seu”, “dona”, “tia”...

Certa vez, quando foi pedir dinheiro, ouviu o interlocutor: “Não tenho trocado, Zico”. Daí, ele de pronto mostrou a solução: “Tem problema não, me dá o dinheiro que eu te dou o troco”.

Em outra oportunidade fez uma intimação a um noivo. “Olhe, você enrolou a outra um tempão e não casou, não vá fazer isto com essa aí não”, avisou ao rapaz, diante de sua noiva de alguns anos.

Zico gostava de dar conselhos. Certa feita encontrou alguém saindo de casa apressadamente, tarde à noite, porta a fora, rua a dentro. “Não sai de vez assim não. Olha primeiro”. Alertou.

E também indagou um conhecido se ele confiava na namorada. “Nunca sumiu dinheiro teu não?”.

Gostava de jogo, com quem estivesse disposto a rolar dados com ele, e de rádio. Às vezes, era um cantarolar danado pelas ruas.

Quando meu pai faleceu, Zico veio me dizer para não ficar triste...

Quem procurar saber vai encontrar “causos” e mais “causos”. Entre eles os passados sob distúrbios mentais. Momentos nos quais apareciam os alertas: “Zico tá atacado!”.

Para alguns, um doido. Para outros um simples mendigo que, apesar de ter uma “aposentadoria”, gostava de sujeira e mendicância.

Na vida, alguém que passou. E agora entrou para o folclore da cidade. Assim como outros personagens. Sejam eles os “certos” ou os “doidos de Irará”.

* Em meio as notícias sobre São João e Cristiano Araújo essa pode ter passado despercebida.

Escrito originalmente em 25 de junho de 2015 e postado no Perfil de Roberto Martins no Facebook - https://www.facebook.com/roberttomarttins


Publicado aqui no Blog com pequenas adaptações e acréscimos em 14/03/2016 

10.3.16

Eu estava na floresta, diante do rio, iluminado pelo celular dele

Naná Vasconcelos em foto de 2011 - Divulgação 
Reprodução de O Globo.com


Um dia, em algum lugar perdido no tempo, entre 2003 e 2006, e achado na minha memória. Concha Acústica do Teatro Castro Alves, Salvador Bahia.
Era um show do Cordel do Fogo Encantado. Convidaram um conhecido deles, então desconhecido meu, para fazer uma participação especial.

Aquele homem chegou à frente do palco e foi segmentando a plateia. “Aqui desse lado, aquele outro, quem tá lá em cima...” Eu, meio impaciente, pensava comigo: “Que besteira”.
Ele deu um som pra cada parte fazer. E depois saiu orquestrando a plateia. Entra o pessoal do “uuuuu”, agora o “chuaaaaa”... e seguia chamando sons, comandando o tempo de cada um deles, em cada parte da plateia, entrar.
Quando ele juntou tudo, não estávamos na Concha. Estávamos na floresta, em plena noite, diante de um rio. Era puro som de natureza. Rio, vento em árvores... Mais de 5 mil pessoas nesse frisson. Pensei sozinho: “Que de fuder!!!”
Esperava viver esta emoção estética novamente. Hoje, recebi a notícia de que não mais a vivenciarei. Ao menos sob a regência do maestro Naná Vasconcelos, não.
Ele se foi. Quem acredita, vai dizer que toda noite ele estará lá de cima, sinalizando pras bandas de cá, com o seu celular...

"O celular de Naná" - Dê o play e ouça a música de Otto